Fígado e coração: Como distúrbios hepáticos afetam o sistema cardiovascular
O fígado e o coração são dois órgãos essenciais para o funcionamento do nosso corpo, desempenhando papéis que vão muito além do que imaginamos no dia a dia. Embora estejam em sistemas diferentes — o fígado no sistema digestivo e o coração no sistema circulatório — suas funções estão profundamente interligadas. O equilíbrio entre esses órgãos é fundamental para manter a saúde geral e prevenir o desenvolvimento de doenças crônicas que podem impactar a qualidade e a expectativa de vida.
Neste mês, no dia 28 de julho, é celebrado o
Dia Mundial da Hepatite, um momento importante para refletir sobre a prevenção, o diagnóstico e o tratamento das hepatites virais, que afetam diretamente o fígado. Mas essa data também serve para lembrar que as condições que comprometem o fígado podem afetar o coração e vice-versa por meio de processos inflamatórios, metabólicos e circulatórios que interligam esses órgãos.
Como as doenças do fígado afetam o coração?
Doenças hepáticas, sejam elas causadas por infecções virais como as hepatites B e C, ou por condições metabólicas como a esteatose hepática não alcoólica (popularmente conhecida como fígado gorduroso), podem desencadear uma série de alterações que impactam a saúde cardiovascular.
O fígado é responsável por funções vitais, como o metabolismo de gorduras, a produção de proteínas plasmáticas (incluindo aquelas envolvidas na coagulação do sangue), e a regulação do equilíbrio energético do corpo. Quando o fígado está comprometido, essas funções são prejudicadas, gerando desequilíbrios que vão além do órgão em si.
Por exemplo, a inflamação crônica associada a doenças hepáticas promove o aumento dos níveis de citocinas pró-inflamatórias circulantes, como o TNF-alfa e a interleucina-6, que contribuem para a disfunção endotelial — um fator chave no desenvolvimento da aterosclerose, ou seja, o acúmulo de placas nas paredes das artérias. Essas placas reduzem a elasticidade vascular e o fluxo sanguíneo, elevando o risco de doenças como hipertensão arterial, doença arterial coronariana, infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral (AVC).
Além disso, pacientes com esteatose hepática não alcoólica frequentemente apresentam síndrome metabólica — um conjunto de condições que inclui resistência à insulina, obesidade abdominal, dislipidemia e pressão alta — que são fatores de risco independentes para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Estudos indicam que a esteatose hepática aumenta significativamente o risco de mortalidade por causas cardiovasculares, mesmo quando controlados outros fatores tradicionais.
Outro ponto importante são as alterações na coagulação do sangue. O fígado produz fatores que controlam a coagulação e a fibrinólise, e sua disfunção pode levar a um estado pró-trombótico, facilitando a formação de coágulos que podem obstruir vasos importantes, inclusive no coração e no cérebro.
Por fim, as hepatites virais crônicas também estão associadas a um aumento do risco de arritmias cardíacas e insuficiência cardíaca, devido à inflamação sistêmica persistente e alterações no metabolismo lipídico. O tratamento eficaz dessas hepatites, com antivirais de ação direta, tem demonstrado reduzir eventos cardiovasculares a longo prazo, reforçando a importância do diagnóstico precoce e do manejo adequado.
Quais sinais e sintomas merecem atenção?
Embora muitas doenças hepáticas e cardíacas possam ser silenciosas nos estágios iniciais, alguns sintomas devem servir de alerta para procurar avaliação médica, como:
- Cansaço intenso e inexplicável;
- Inchaço nas pernas ou abdômen (ascite);
- Palpitações, falta de ar ou dor no peito;
- Icterícia (coloração amarelada na pele e olhos);
- Pressão arterial elevada ou difícil de controlar.
A detecção precoce, com exames laboratoriais e de imagem, é fundamental para evitar complicações graves e garantir um tratamento eficaz.
Como proteger seu fígado e seu coração de forma integrada?
A boa notícia é que diversas medidas simples e práticas podem beneficiar tanto o fígado quanto o coração:
- Exames regulares: Avaliar a função hepática (enzimas TGO, TGP, GGT), perfil lipídico, glicemia e pressão arterial ajuda a identificar alterações precoces.
- Alimentação equilibrada: Reduzir o consumo de alimentos ultraprocessados, açúcares e gorduras saturadas; priorizar frutas, vegetais, fibras e gorduras saudáveis (como azeite e oleaginosas).
- Atividade física regular: O exercício melhora a sensibilidade à insulina, reduz a gordura acumulada no fígado e fortalece o sistema cardiovascular.
- Moderação no álcool: O consumo excessivo prejudica diretamente o fígado e agrava o risco cardiovascular.
- Controle do estresse e sono adequado: Ambos influenciam a inflamação sistêmica e a saúde dos órgãos.
- Acompanhamento médico especializado: Em casos de hepatite ou outras doenças crônicas, o monitoramento conjunto com hepatologista e cardiologista é fundamental para ajustar tratamentos e prevenir complicações.
Cuidar do fígado é proteger o coração
Entender a conexão entre fígado e coração é fundamental para uma abordagem de saúde mais completa e eficaz. A prevenção integrada, que considera os dois órgãos e o corpo como um sistema único, é o caminho para evitar doenças graves e viver com mais qualidade.
Neste mês em que reforçamos a importância da prevenção da hepatite, aproveite para cuidar também da sua saúde cardiovascular. Marque seus exames, mantenha hábitos saudáveis e busque acompanhamento médico regular, o seu coração e o seu fígado agradecem.







