Por que o infarto está atingindo cada vez mais jovens?
Por muito tempo, acreditou-se que o infarto agudo do miocárdio era uma condição que acometia, prioritariamente, homens acima dos 50 anos, com histórico familiar e estilo de vida sedentário. No entanto, essa percepção está mudando rapidamente. Os casos de infarto em adultos jovens, especialmente aqueles com menos de 40 anos, têm crescido de maneira preocupante nos últimos anos. E esse aumento acende um sinal de alerta importante tanto para a sociedade quanto para os profissionais de saúde: estamos falhando na prevenção precoce?
O que revelam as estatísticas
Dados do Ministério da Saúde mostram que, entre os anos 2000 e 2024, houve um crescimento de 180% nas internações por infarto em jovens brasileiros com menos de 40 anos. Na faixa etária entre 35 e 39 anos, esse número saltou de 9,3 para 18 casos por 100 mil habitantes — um aumento de quase 80%. É uma mudança brusca no perfil epidemiológico da doença cardiovascular, tradicionalmente ligada ao envelhecimento.
Os fatores de risco permanecem os mesmos: tabagismo, sedentarismo, alimentação rica em gorduras saturadas, hipertensão arterial, diabetes e colesterol alto. No entanto, entre os mais jovens, outros aspectos vêm ganhando protagonismo, como o uso de anabolizantes, drogas ilícitas, o estresse crônico associado à hiperprodutividade e ao desemprego, e o uso excessivo de cigarro eletrônico (vape), muitas vezes erroneamente considerado inofensivo.
O impacto das redes sociais e da pressão estética também tem incentivado práticas nocivas à saúde, como dietas extremamente restritivas, automedicação e uso indiscriminado de substâncias para emagrecimento rápido. Soma-se a isso o baixo índice de acompanhamento médico regular entre os jovens, que acabam negligenciando sintomas iniciais como dor no peito, cansaço extremo e palpitações.
Segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia, mais de 30% dos jovens com infarto não apresentam fatores de risco tradicionais. Isso significa que há um número significativo de pacientes jovens com eventos cardiovasculares graves sem o "perfil clássico", o que dificulta ainda mais a prevenção e o diagnóstico precoce. Além disso, estudos internacionais apontam que jovens que sofrem infarto têm maior probabilidade de complicações emocionais e psicológicas no pós-evento, como ansiedade, depressão e medo recorrente de morte súbita.
Saúde cardiovascular não tem idade
A principal questão que se impõe é: estamos preparados para enfrentar um infarto precoce? A maioria dos serviços de saúde ainda considera o infarto como uma doença de idosos. Isso faz com que os sintomas em jovens sejam, muitas vezes, subestimados tanto pelos próprios pacientes quanto pelos profissionais da saúde. O tempo até o diagnóstico e o início do tratamento costuma ser maior, o que aumenta o risco de sequelas e até de óbito. Outro problema é que muitos planos de saúde ou programas públicos de triagem não priorizam essa faixa etária para exames cardiológicos, o que dificulta a detecção precoce de doenças coronarianas silenciosas.
É urgente repensar nossa abordagem em relação à saúde cardiovascular de jovens adultos. Programas educativos sobre hábitos saudáveis, campanhas direcionadas para essa faixa etária e inclusão de check-ups cardiológicos em exames de rotina são fundamentais. Além disso, é necessário que os profissionais da saúde estejam mais atentos aos sinais e sintomas relatados por esses pacientes, mesmo que não apresentem os fatores de risco clássicos. O infarto em jovens já não é exceção, é uma realidade. E como sociedade, precisamos reagir a isso com informação, prevenção e acolhimento.










