ECMO no Brasil: A evolução silenciosa de uma terapia que salva vidas
Há pouco mais de uma década, a sigla ECMO soava como algo distante para a maioria dos profissionais de saúde e, principalmente, para os pacientes. Vista quase como uma medida extrema, associada a casos raros e de altíssimo risco, a oxigenação por membrana extracorpórea era uma terapia restrita e pouco compreendida. Porém, nos últimos anos, especialmente após a pandemia, houve uma transformação profunda na forma como o ECMO é utilizado, estudado, indicado e estruturado no Brasil. O que antes era exceção, hoje se consolida como uma ferramenta essencial no arsenal de suporte avançado para pacientes críticos em choque cardiogênico ou insuficiência respiratória grave.
Como o ECMO funciona e por que salva vidas
O
ECMO funciona como um coração-pulmão artificial temporário. Ele retira o sangue do paciente, oxigena, remove gás carbônico e devolve ao organismo, permitindo que o coração e/ou os pulmões descansem enquanto se recuperam ou enquanto se aguarda uma terapia definitiva, como uma cirurgia ou um transplante. Esse “tempo extra” oferecido pela tecnologia é, muitas vezes, o que separa a vida da morte. Em condições como infarto extenso com falência ventricular, miocardites agudas, choque cardiogênico refratário ou complicações pós-operatórias na cirurgia cardiovascular, o ECMO se tornou um recurso capaz de modificar drasticamente o prognóstico.
O que impulsionou essa evolução no Brasil foi, em grande parte, a necessidade. A pandemia evidenciou a urgência de terapias de suporte circulatório e respiratório avançado, levando diversos hospitais a criarem fluxos, treinarem equipes e investirem em tecnologia. Perfusionistas passaram a ter papel central, intensivistas e cirurgiões cardiovasculares se integraram de forma mais estruturada, e centros especializados começaram a se multiplicar. Hoje, o Brasil vive um momento de consolidação: há mais unidades capacitadas, protocolos atualizados e uma visão mais clara das indicações e limitações da terapia.
Os resultados estão cada vez mais consistentes. Quando implantado no momento adequado e conduzido por equipes experientes, o ECMO aumenta significativamente a chance de sobrevivência, reduz complicações e melhora a preservação de órgãos. Para pacientes que aguardam transplante, ele não é apenas uma ponte, é a única maneira de permanecer estável até que o órgão chegue. Em casos de insuficiência respiratória grave, oferece recuperação que muitas vezes seria impossível com ventilação mecânica convencional.
Naturalmente, desafios importantes ainda existem. Tornar o ECMO mais acessível ao SUS, ampliar centros de referência, padronizar critérios de indicação e investir continuamente em capacitação são passos essenciais para os próximos anos. A terapia depende de equipes completas e treinadas; não basta o equipamento, mas sim a integração entre perfusionistas, cirurgiões, intensivistas, enfermagem e fisioterapeutas.
Um futuro impulsionado por inovação
O futuro, porém, já dá sinais promissores. O ECMO móvel, que permite transportar pacientes graves já conectados à máquina, começa a aparecer em grandes centros. A ressuscitação cardiopulmonar com ECMO (E-CPR), que combina as manobras de reanimação com suporte extracorpóreo imediato, vem mostrando resultados expressivos no exterior e deve ganhar espaço no Brasil. A canulação guiada por imagem e o uso de inteligência artificial para prever complicações também despontam como avanços que transformarão o cuidado crítico.
O ECMO deixou de ser uma terapia de exceção para se tornar um símbolo de esperança e tecnologia aplicada ao cuidado humano. É ciência, precisão e, acima de tudo, tempo, o recurso mais valioso para quem está entre a vida e a morte. E, no Brasil, essa evolução está apenas começando.
NÃO DEIXE DE ACOMPANHAR O
BLOG E TAMBÉM AS REDES SOCIAIS DE
DR. FERNANDO.










