Saúde do Homem: por que o coração precisa entrar definitivamente nessa conversa
Quando novembro chega, as campanhas de saúde voltadas ao homem se concentram quase exclusivamente na prevenção do câncer de próstata. Embora essa seja uma pauta fundamental, ela acaba criando a sensação de que a saúde masculina se resume a esse único cuidado. Esse recorte limitado deixa de lado um aspecto muito mais urgente e extremamente relevante: o coração. As doenças cardiovasculares seguem como a principal causa de morte entre homens no Brasil e no mundo, superando de longe todas as outras condições combinadas e o mais alarmante é que grande parte desses eventos poderia ser evitada com prevenção adequada e acompanhamento regular.
Por que os homens demoram a buscar ajuda
Existe um comportamento repetitivo e culturalmente construído entre os homens: procurar ajuda apenas quando algo já está avançado. Essa negligência não costuma ser intencional; ela nasce da ideia equivocada de invulnerabilidade, da rotina corrida, da falta de tempo ou da simples dificuldade em aceitar fragilidades. Como consequência, muitos só chegam ao cardiologista após um susto considerável, um infarto, um episódio de arritmia, um desmaio ou uma dor torácica persistente. Em muitos casos, o primeiro encontro com a cardiologia é também o mais crítico.
O grande problema é que o coração é um órgão silencioso. Ele não avisa quando a pressão está alta, quando o colesterol está se acumulando nas artérias, quando a aterosclerose avança sem sintomas ou quando pequenos episódios de arritmia vão aparecendo de forma intermitente. Um homem aparentemente saudável, ativo fisicamente e com boa forma física pode carregar fatores de risco importantes sem perceber. A estética, frequentemente, mascara o risco real.
Exames essenciais após os 40 anos
Passados os 40 anos, alguns exames tornam-se cruciais para quem deseja viver mais e melhor. O mapa lipídico completo identifica a dislipidemia, uma das maiores responsáveis pelo desenvolvimento de doença coronariana. O ecocardiograma é um exame simples, não invasivo, que permite visualizar a função cardíaca, avaliar válvulas e identificar hipertrofias causadas por anos de pressão alta. A ergoespirometria, ou, ao menos, o teste ergométrico, é essencial para quem treina, corre, pedala ou pretende iniciar atividades mais intensas. E, talvez o mais revolucionário dos últimos anos, o escore de cálcio coronariano vem se mostrando uma ferramenta extremamente precisa para prever o risco de infarto, oferecendo uma fotografia real do estado das artérias.
Além dos exames, há fatores menos discutidos, mas igualmente importantes. A apneia do sono, por exemplo, é um dos grandes vilões cardiovasculares modernos, aumentando o risco de arritmia, hipertensão resistente e insuficiência cardíaca. O estresse contínuo, por sua vez, gera inflamação crônica e desregula profundamente o corpo. O consumo de álcool, muitas vezes normalizado, e o uso crescente de cigarros eletrônicos completam esse cenário de risco.
Prevenção cardiovascular na prática
A boa notícia é que grande parte das doenças cardiovasculares pode ser prevenida. Alimentação equilibrada, atividade física regular, manejo do estresse, sono adequado e abandono do tabaco são medidas simples, eficazes e acessíveis. Nada disso exige um grande sacrifício, o difícil mesmo é lidar com as consequências da negligência.
Por isso, aproveitar o Novembro Azul para ampliar o debate é fundamental. Cuidar da próstata é importante, mas cuidar do coração é indispensável. O homem moderno, preocupado com estética, produtividade e performance, precisa entender que nada disso importa sem a base que sustenta tudo: um coração saudável. A verdadeira longevidade começa pela prevenção, e prevenção começa por olhar para si antes que o corpo peça socorro. Novembro é só o lembrete; o compromisso real deve durar o ano inteiro.










