Os riscos do uso de Vape para a saúde cardíaca

Fernando Figueira • December 31, 2024

Nos últimos anos, o uso de cigarros eletrônicos, conhecidos como vapes, tornou-se uma tendência, especialmente entre os jovens. Vendidos como uma alternativa "mais segura" ao cigarro convencional, os vapes muitas vezes são subestimados quanto aos seus riscos. Contudo, pesquisas recentes têm demonstrado que o uso frequente de vapes pode ter impactos significativos na saúde cardiovascular, além de afetar outros órgãos. Este texto explora esses efeitos, utilizando dados científicos e exemplos práticos para alertar sobre os perigos desse hábito.

 

Impactos na Saúde Cardíaca

 

Um dos principais riscos do vape para o coração está relacionado à nicotina, presente em altas concentrações na maioria dos dispositivos. A nicotina é uma substância vasoconstritora, o que significa que ela reduz o diâmetro dos vasos sanguíneos, aumentando a pressão arterial e a frequência cardíaca. Estudos publicados no Journal of the American College of Cardiology indicam que o uso de vapes está associado a uma maior rigidez arterial, aumentando o risco de hipertensão, infarto do miocárdio e insuficiência cardíaca.

 

Além disso, o vapor emitido pelos dispositivos contém compostos tóxicos, como aldeídos e metais pesados, que causam inflamação e estresse oxidativo no sistema cardiovascular. Essa combinação pode levar à formação de placas de gordura nas artérias, contribuindo para a aterosclerose, uma das principais causas de doenças coronarianas.

 

Danos a Outros Órgãos

 

Os problemas não param no coração. O uso de vapes também é prejudicial para outros órgãos como:

 

Pulmões: Estudos mostram que o vapor pode causar inflamação pulmonar e aumentar o risco de doenças como bronquite e pneumonite.

Cérebro: A nicotina afeta o sistema nervoso central, podendo levar à dependência e ao aumento de comportamentos de risco, especialmente em jovens.

Fígado e rins: Metais pesados presentes no vapor, como cádmio e chumbo, podem se acumular nesses órgãos, prejudicando seu funcionamento ao longo do tempo.

Um estudo de caso publicado em 2023 descreveu um jovem de 25 anos, usuário regular de vape, que apresentou dores no peito e falta de ar. Após exames, foi diagnosticado com miocardite, uma inflamação do músculo cardíaco, o miocárdio, que pode comprometer seriamente a capacidade do coração de bombear sangue adequadamente. Essa condição é geralmente associada a infecções virais, doenças autoimunes ou uso de substâncias tóxicas.

Os líquidos utilizados no vape contêm nicotina, produtos químicos aromatizantes e outros componentes que, quando inalados, podem desencadear respostas inflamatórias no organismo.

Acredita-se que as partículas químicas inaladas através do vape podem desencadear uma resposta imunológica exagerada no coração, levando à miocardite. Além disso, o estresse oxidativo gerado pelas substâncias do vape pode danificar as células do miocárdio, resultando em inflamação.

               

Prevenção é o melhor caminho

Evitar o uso de vapes é uma medida essencial para proteger a saúde do coração, especialmente para os mais jovens. Embora sejam frequentemente comercializados como uma alternativa "mais segura" ao cigarro convencional, os impactos do vape na saúde a longo prazo, incluindo no sistema cardiovascular, ainda estão sendo descobertos.

 

Como cirurgião cardiovascular, ressalto a importância de adotar hábitos saudáveis e buscar orientação médica ao primeiro sinal de desconforto cardíaco. Lembre-se: o coração é um órgão essencial e merece cuidados especiais para uma vida longa e saudável.

 

Se você utiliza vape e tem dúvidas sobre sua saúde cardíaca, agende uma consulta para avaliar sua condição e discutir as melhores opções para cuidar do seu coração.

By Fernando Figueira December 11, 2025
Enquanto o sol do verão brasileiro nos alerta sobre o câncer de pele , uma realidade clínica menos visível exige nossa atenção. Como cirurgião cardiovascular que atua tanto na prática clínica quanto na gestão da saúde pública, acompanho um fenômeno crescente: pacientes que venceram batalhas contra o câncer agora enfrentam uma ameaça cardíaca tardia. Esta não é uma possibilidade teórica, mas uma realidade que vejo em meu consultório e que desafia nossa capacidade de oferecer cuidado verdadeiramente integral. Quando o tratamento salva e compromete O avanço da oncologia trouxe um paradoxo. Medicamentos como as antraciclinas , fundamentais no tratamento de câncer de mama , linfomas e leucemias, podem causar danos cardíacos cumulativos. A radioterapia torácica, por sua vez, pode acelerar processos ateroscleróticos. O resultado? Uma cardiomiopatia dilatada silenciosa ou doença coronariana precoce que se manifesta anos após o tratamento oncológico. A pergunta que ecoa nos consultórios é dura, mas necessária: "Vencer o câncer deveria significar enfrentar uma nova batalha cardíaca anos depois?" . Essa interrogação não vem de casos hipotéticos, mas de histórias reais de sobreviventes que, após celebrarem a remissão oncológica, veem sua qualidade de vida ser comprometida por complicações cardiovasculares tardias. Esse cenário expõe uma desconexão temporal no cuidado - enquanto o tratamento do câncer é intensivo e monitorado, suas sequelas cardiovasculares podem permanecer subdiagnosticadas por anos, emergindo apenas quando já estabelecidas. Cardio-Oncologia: O Complemento necessário ao sucesso oncológico A Cardio-Oncologia surge não como uma correção de erros, mas como um complemento evolutivo ao sucesso da oncologia moderna. Se hoje celebramos mais sobreviventes ao câncer, faz sentido que também desenvolvamos estratégias para proteger sua saúde cardiovascular em longo prazo. Esta abordagem integrada representa: Um avanço no cuidado preventivo proativo, antecipando-se a possíveis complicações A aplicação da medicina personalizada, reconhecendo que diferentes pacientes têm diferentes riscos A visão holística que todo paciente merece, onde órgãos são protegidos de forma integrada Esta especialidade não questiona a quimioterapia ou radioterapia, mas reconhece que pacientes que passaram por tratamentos intensivos merecem vigilância cardiovascular adequada como parte de seu cuidado pós-tratamento. Minha experiência clínica e de gestão me mostra que a medicina contemporânea enfrenta um desafio fascinante: como integrar especialidades que tradicionalmente atuaram de forma independente. A oncologia obteve vitórias históricas contra doenças antes consideradas intratáveis. A cardiologia desenvolveu métodos sofisticados de diagnóstico precoce e intervenção preventiva. O encontro entre essas especialidades na Cardio-Oncologia não representa um conflito, mas uma colaboração necessária. Trata-se de aliar o poder dos tratamentos oncológicos com a vigilância cardiovascular, criando um continuum de cuidado que honra tanto a vitória imediata contra o câncer quanto a proteção da saúde em longo prazo. A discussão sobre Cardio-Oncologia transcende questões financeiras para tocar em algo mais fundamental: a qualidade da sobrevivência. Quando falamos em monitoramento cardiovascular para pacientes oncológicos, estamos discutindo como garantir que os anos ganhos sejam vividos com plenitude. Esta abordagem representa uma evolução natural do cuidado médico: de tratar doenças agudas para gerenciar saúde em longo prazo. Não se trata de substituir ou questionar tratamentos comprovadamente eficazes, mas de complementá-los com uma visão que protege o paciente de forma integral. Dezembro Laranja e o cuidado integral O Dezembro Laranja nos convida a pensar além da pele, mas também além de especialidades isoladas. A campanha pode ser um catalisador para reflexões mais amplas sobre como oferecemos cuidado contínuo aos pacientes. A cardiotoxicidade potencial de alguns tratamentos oncológicos não diminui seu valor, mas sim nos lembra que a medicina de excelência requer atenção a múltiplas dimensões da saúde. O mesmo rigor científico que desenvolveu terapias oncológicas eficazes agora nos permite identificar e mitigar seus efeitos colaterais conhecidos. Como cirurgião cardiovascular e profissional envolvido na melhoria dos serviços de saúde, vejo a Cardio-Oncologia como um exemplo inspirador de como a medicina pode evoluir. Não se trata de apontar falhas no passado, mas de construir sobre conquistas para criar um cuidado ainda mais completo. O Dezembro Laranja nos oferece uma oportunidade dupla: conscientizar sobre o câncer de pele e, simultaneamente, refletir sobre como integramos diferentes especialidades para benefício do paciente. A proteção da pele e a proteção do coração não são objetivos concorrentes, mas complementares na busca por saúde integral.  Esta reflexão celebra os avanços da oncologia enquanto defende uma visão integrada do cuidado pós-tratamento. O caminho adiante não é questionar o que foi conquistado, mas construir sobre essas conquistas para oferecer um acompanhamento que honre toda a complexidade da saúde humana em seu curso vitalício.
By Fernando Figueira November 25, 2025
Há pouco mais de uma década, a sigla ECMO soava como algo distante para a maioria dos profissionais de saúde e, principalmente, para os pacientes. Vista quase como uma medida extrema, associada a casos raros e de altíssimo risco, a oxigenação por membrana extracorpórea era uma terapia restrita e pouco compreendida. Porém, nos últimos anos, especialmente após a pandemia, houve uma transformação profunda na forma como o ECMO é utilizado, estudado, indicado e estruturado no Brasil. O que antes era exceção, hoje se consolida como uma ferramenta essencial no arsenal de suporte avançado para pacientes críticos em choque cardiogênico ou insuficiência respiratória grave. Como o ECMO funciona e por que salva vidas O ECMO funciona como um coração-pulmão artificial temporário. Ele retira o sangue do paciente, oxigena, remove gás carbônico e devolve ao organismo, permitindo que o coração e/ou os pulmões descansem enquanto se recuperam ou enquanto se aguarda uma terapia definitiva, como uma cirurgia ou um transplante. Esse “tempo extra” oferecido pela tecnologia é, muitas vezes, o que separa a vida da morte. Em condições como infarto extenso com falência ventricular, miocardites agudas, choque cardiogênico refratário ou complicações pós-operatórias na cirurgia cardiovascular, o ECMO se tornou um recurso capaz de modificar drasticamente o prognóstico. O que impulsionou essa evolução no Brasil foi, em grande parte, a necessidade. A pandemia evidenciou a urgência de terapias de suporte circulatório e respiratório avançado, levando diversos hospitais a criarem fluxos, treinarem equipes e investirem em tecnologia. Perfusionistas passaram a ter papel central, intensivistas e cirurgiões cardiovasculares se integraram de forma mais estruturada, e centros especializados começaram a se multiplicar. Hoje, o Brasil vive um momento de consolidação: há mais unidades capacitadas, protocolos atualizados e uma visão mais clara das indicações e limitações da terapia. Os resultados estão cada vez mais consistentes. Quando implantado no momento adequado e conduzido por equipes experientes, o ECMO aumenta significativamente a chance de sobrevivência, reduz complicações e melhora a preservação de órgãos. Para pacientes que aguardam transplante, ele não é apenas uma ponte, é a única maneira de permanecer estável até que o órgão chegue. Em casos de insuficiência respiratória grave, oferece recuperação que muitas vezes seria impossível com ventilação mecânica convencional. Naturalmente, desafios importantes ainda existem. Tornar o ECMO mais acessível ao SUS, ampliar centros de referência, padronizar critérios de indicação e investir continuamente em capacitação são passos essenciais para os próximos anos. A terapia depende de equipes completas e treinadas; não basta o equipamento, mas sim a integração entre perfusionistas, cirurgiões, intensivistas, enfermagem e fisioterapeutas. Um futuro impulsionado por inovação O futuro, porém, já dá sinais promissores. O ECMO móvel , que permite transportar pacientes graves já conectados à máquina, começa a aparecer em grandes centros. A ressuscitação cardiopulmonar com ECMO (E-CPR), que combina as manobras de reanimação com suporte extracorpóreo imediato, vem mostrando resultados expressivos no exterior e deve ganhar espaço no Brasil. A canulação guiada por imagem e o uso de inteligência artificial para prever complicações também despontam como avanços que transformarão o cuidado crítico. O ECMO deixou de ser uma terapia de exceção para se tornar um símbolo de esperança e tecnologia aplicada ao cuidado humano. É ciência, precisão e, acima de tudo, tempo, o recurso mais valioso para quem está entre a vida e a morte. E, no Brasil, essa evolução está apenas começando. NÃO DEIXE DE ACOMPANHAR O BLOG E TAMBÉM AS REDES SOCIAIS DE DR. FERNANDO.
By Fernando Figueira November 15, 2025
Quando novembro chega, as campanhas de saúde voltadas ao homem se concentram quase exclusivamente na prevenção do câncer de próstata. Embora essa seja uma pauta fundamental, ela acaba criando a sensação de que a saúde masculina se resume a esse único cuidado. Esse recorte limitado deixa de lado um aspecto muito mais urgente e extremamente relevante: o coração. As doenças cardiovasculares seguem como a principal causa de morte entre homens no Brasil e no mundo , superando de longe todas as outras condições combinadas e o mais alarmante é que grande parte desses eventos poderia ser evitada com prevenção adequada e acompanhamento regular. Por que os homens demoram a buscar ajuda Existe um comportamento repetitivo e culturalmente construído entre os homens: procurar ajuda apenas quando algo já está avançado. Essa negligência não costuma ser intencional; ela nasce da ideia equivocada de invulnerabilidade, da rotina corrida, da falta de tempo ou da simples dificuldade em aceitar fragilidades. Como consequência, muitos só chegam ao cardiologista após um susto considerável, um infarto, um episódio de arritmia, um desmaio ou uma dor torácica persistente. Em muitos casos, o primeiro encontro com a cardiologia é também o mais crítico. O grande problema é que o coração é um órgão silencioso. Ele não avisa quando a pressão está alta, quando o colesterol está se acumulando nas artérias, quando a aterosclerose avança sem sintomas ou quando pequenos episódios de arritmia vão aparecendo de forma intermitente. Um homem aparentemente saudável, ativo fisicamente e com boa forma física pode carregar fatores de risco importantes sem perceber. A estética, frequentemente, mascara o risco real. Exames essenciais após os 40 anos Passados os 40 anos, alguns exames tornam-se cruciais para quem deseja viver mais e melhor. O mapa lipídico completo identifica a dislipidemia, uma das maiores responsáveis pelo desenvolvimento de doença coronariana. O ecocardiograma é um exame simples, não invasivo, que permite visualizar a função cardíaca, avaliar válvulas e identificar hipertrofias causadas por anos de pressão alta. A ergoespirometria, ou, ao menos, o teste ergométrico, é essencial para quem treina, corre, pedala ou pretende iniciar atividades mais intensas. E, talvez o mais revolucionário dos últimos anos, o escore de cálcio coronariano vem se mostrando uma ferramenta extremamente precisa para prever o risco de infarto, oferecendo uma fotografia real do estado das artérias. Além dos exames, há fatores menos discutidos, mas igualmente importantes. A apneia do sono , por exemplo, é um dos grandes vilões cardiovasculares modernos, aumentando o risco de arritmia, hipertensão resistente e insuficiência cardíaca. O estresse contínuo, por sua vez, gera inflamação crônica e desregula profundamente o corpo. O consumo de álcool, muitas vezes normalizado, e o uso crescente de cigarros eletrônicos completam esse cenário de risco. Prevenção cardiovascular na prática A boa notícia é que grande parte das doenças cardiovasculares pode ser prevenida. Alimentação equilibrada, atividade física regular, manejo do estresse, sono adequado e abandono do tabaco são medidas simples, eficazes e acessíveis. Nada disso exige um grande sacrifício, o difícil mesmo é lidar com as consequências da negligência. Por isso, aproveitar o Novembro Azul para ampliar o debate é fundamental. Cuidar da próstata é importante, mas cuidar do coração é indispensável. O homem moderno, preocupado com estética, produtividade e performance, precisa entender que nada disso importa sem a base que sustenta tudo: um coração saudável. A verdadeira longevidade começa pela prevenção, e prevenção começa por olhar para si antes que o corpo peça socorro. Novembro é só o lembrete; o compromisso real deve durar o ano inteiro.
By Fernando Figueira October 30, 2025
Quando foi a última vez que você pensou na importância das vacinas? Talvez a resposta venha associada a crianças pequenas, à gripe ou a campanhas anuais de vacinação. Mas a verdade é que vacinas são parte essencial da saúde de todas as idades , incluindo adolescentes e adultos, e têm impactos diretos e indiretos sobre o nosso coração. Já parou para refletir sobre isso? Por que vacinas importam para o corpo todo, inclusive para o coraçã? O objetivo das vacinas é simples: preparar o sistema imunológico para reconhecer e combater agentes infecciosos, evitando doenças graves. Mas o que muitos não sabem é que infecções graves podem afetar diretamente o coração. Inflamações sistêmicas, febre alta e até tromboses podem surgir em infecções não prevenidas, aumentando o risco de complicações cardiovasculares, especialmente em pessoas com predisposição genética ou histórico de hipertensão, obesidade ou diabetes. Para mais informações sobre como infecções virais podem afetar o coração, consulte o artigo sobre Cardiomiopatia viral . E os questionamentos que aparecem na internet? Quem nunca viu alguém comentando nas redes sociais sobre vacinas “causando problemas no coração”? Essas histórias chamam atenção, especialmente porque envolvem jovens aparentemente saudáveis. Mas será que essas informações refletem a realidade científica? Vamos aos fatos: pesquisas internacionais e nacionais confirmam que efeitos adversos graves em jovens vacinados são extremamente raros. No caso da COVID-19, por exemplo, houve relatos de miocardite em homens jovens, mas: A incidência foi de aproximadamente 1 a 5 casos a cada 100 mil vacinados, segundo o CDC . A maioria dos casos foi leve e tratável, com recuperação completa em poucos dias. Infecções naturais pelo vírus apresentam risco muito maior de inflamação cardíaca e complicações graves do que a própria vacinação. Portanto, questionar é saudável, a ciência valoriza a dúvida e busca respostas precisas. Mas precisamos diferenciar questionamentos legítimos de informações distorcidas que circulam nas redes sociais. Como a ciência protege a população O Brasil possui uma tradição consolidada em imunização, com o SUS garantindo vacinas para milhões de brasileiros, desde recém-nascidos até adultos. Cada vacina aprovada passa por testes rigorosos de segurança e eficácia, conduzidos por cientistas em laboratórios nacionais e internacionais, antes de ser disponibilizada à população. Quando surgem efeitos adversos, eles são monitorados e investigados por autoridades de saúde, como o Ministério da Saúde e a Anvisa, que publicam dados transparentes sobre frequência e gravidade. Esse processo garante que benefícios superem amplamente qualquer risco, incluindo riscos cardiovasculares. Além disso, a ciência nos ensina que não se pode tirar conclusões precipitadas de casos isolados. Por exemplo, quando uma pessoa jovem apresenta inflamação do coração após a vacina, os especialistas analisam: há fatores pré-existentes? É uma coincidência temporal? Quais os números em larga escala? Só com dados consistentes podemos afirmar causalidade e até agora, os números reforçam que vacinas são seguras para o coração da grande maioria das pessoas. Vacinas, prevenção e saúde cardiovascular Você sabia que proteger-se de infecções também ajuda a manter o coração saudável? Aqui está o porquê: Evita inflamação sistêmica: Infecções graves aumentam a inflamação no corpo, que pode afetar o coração. Reduz internações e complicações: Pessoas vacinadas têm menor risco de desenvolver complicações que exigem cuidados intensivos, como discutido em nosso artigo sobre transplante cardíaco no SUS. Protege grupos vulneráveis: Ao se vacinar, você também protege pessoas próximas, como idosos ou pessoas com doenças cardíacas crônicas. No fim das contas, vacinar-se é um ato de autocuidado e solidariedade, e envolve informação confiável, diálogo com profissionais de saúde e acompanhamento regular, especialmente para quem tem fatores de risco cardíaco. Como se informar de forma segura Em meio a tantas mensagens online, como saber o que é verdadeiro? Algumas dicas simples: Priorize fontes confiáveis: Ministério da Saúde, Anvisa, Sociedade Brasileira de Cardiologia, OMS , CDC . Cuidado com postagens virais: Histórias isoladas ou vídeos sensacionalistas raramente refletem a realidade. Converse com seu médico: Especialistas podem contextualizar riscos individuais e esclarecer dúvidas sobre vacinação e saúde cardíaca. Quando olhamos para a ciência e os dados, fica claro que vacinas protegem o coração tanto quanto previnem doenças infecciosas. Questionar e buscar informações é natural, mas confiar em evidências robustas é fundamental para não se deixar levar por fake news. O cuidado com o coração é contínuo, e incluir vacinas nesse cuidado é um passo simples, seguro e comprovadamente eficaz. Afinal, prevenir é sempre melhor do que remediar e a ciência está do nosso lado para mostrar que proteger o coração e a saúde é possível, sem exageros ou alarmismos.
By Fernando Figueira October 24, 2025
Outubro é o mês em que o mundo se veste de rosa para reforçar a importância da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de mama , o tipo de câncer mais comum entre as mulheres em todo o mundo. Mas há um aspecto ainda pouco discutido nessa conversa: o impacto que o tratamento oncológico pode ter sobre o coração . Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA) , o Brasil registra cerca de 73 mil novos casos de câncer de mama por ano , o que representa aproximadamente 20% de todos os diagnósticos de câncer em mulheres, excluídos os tumores de pele não melanoma. A taxa de sobrevida tem aumentado graças aos avanços no diagnóstico precoce e nas terapias oncológicas, mas o cuidado não deve terminar com o fim do tratamento. Para muitas pacientes, o acompanhamento do coração é essencial, já que o tratamento pode impactar diretamente a saúde cardiovascular. O que o câncer de mama tem a ver com o coração? O elo entre o câncer de mama e o sistema cardiovascular está nas terapias utilizadas para combater o tumor. Medicamentos como as antraciclinas (doxorrubicina, por exemplo) e agentes-alquilantes, além da radioterapia na região torácica, podem causar cardiotoxicidade — ou seja, danos ao músculo cardíaco e às funções do coração. Além disso, a radioterapia na região torácica, especialmente quando o lado esquerdo é tratado, pode afetar vasos e tecidos próximos, aumentando o risco de doença arterial coronariana anos após o término do tratamento. Isso significa que mesmo pacientes consideradas curadas do câncer devem manter o acompanhamento cardiológico regular. O papel da cardio-oncologia e do acompanhamento multidisciplinar A cardio-oncologia é uma área relativamente nova, mas essencial, que une oncologistas, cardiologistas, cirurgiões cardiovasculares, fisioterapeutas e nutricionistas em torno de um objetivo comum: proteger o coração durante e após o tratamento do câncer. Esse acompanhamento começa antes mesmo da primeira sessão de quimioterapia, com uma avaliação cardiovascular pré-tratamento, que identifica pacientes com maior risco de complicações. Durante o tratamento, exames como o ecocardiograma ajudam a monitorar o desempenho do coração, permitindo intervenções precoces caso surjam alterações. Após o tratamento, o seguimento deve continuar. Um estilo de vida saudável, controle da pressão arterial, prática de atividade física regular e alimentação equilibrada são pilares para preservar a função cardíaca e reduzir riscos futuros. Cuidar do coração é também cuidar da vida A jornada contra o câncer de mama é complexa e exige coragem, mas também integração entre especialidades médicas. A paciente que passa por um diagnóstico de câncer não deve ser vista apenas sob o olhar oncológico — ela é um ser integral, com corpo, mente e coração. No Brasil, o SUS tem ampliado o acesso à atenção especializada e ao cuidado integrado, com políticas que fortalecem o acompanhamento de longo prazo das mulheres que venceram o câncer. Esse é um passo importante para garantir não apenas sobrevida, mas qualidade de vida. Outubro Rosa é, portanto, mais do que um lembrete para o autoexame. É um convite para um olhar mais amplo sobre a saúde feminina: prevenir o câncer e cuidar do coração caminham juntos.
By Fernando Figueira September 17, 2025
A era digital e a rotina sedentária O avanço da tecnologia transformou a forma como trabalhamos, nos comunicamos e nos divertimos. Hoje, é possível realizar grande parte das tarefas diárias sem sequer sair de casa: reuniões acontecem por videoconferência, compras são feitas por aplicativos e o lazer, muitas vezes, se resume a séries, filmes e redes sociais. Essa revolução trouxe inegáveis facilidades, mas também consolidou um estilo de vida cada vez mais sedentário. O problema não está apenas na ausência de atividade física regular, mas na soma de longas horas diante de telas, que reduzem o gasto energético diário de forma significativa. Mesmo indivíduos que se dedicam à academia algumas vezes por semana podem sofrer os efeitos do chamado “sedentarismo ocupacional”, caracterizado pela imobilidade prolongada no restante do dia. De acordo com o Ministério da Saúde , o sedentarismo é um dos principais fatores de risco para doenças crônicas não transmissíveis, incluindo problemas cardiovasculares. Pesquisas recentes mostram que o comportamento sedentário tem impacto independente do nível de atividade física. Em outras palavras, correr ou pedalar durante 40 minutos no início do dia não é suficiente para neutralizar os riscos de passar oito ou dez horas consecutivas sentado. Essa realidade é particularmente preocupante em sociedades urbanas e digitalizadas, onde o tempo de tela vem crescendo em todas as faixas etárias Como o sedentarismo afeta o coração A relação entre o sedentarismo digital e a saúde cardiovascular é multifatorial. Permanecer sentado por mais de oito horas diárias está associado a maior risco de doenças coronarianas, insuficiência cardíaca e até arritmias. A Sociedade Brasileira de Cardiologia alerta que a falta de movimento prolongada aumenta consideravelmente a probabilidade de desenvolver doenças do coração. Do ponto de vista metabólico, a inatividade prolongada reduz a captação de glicose pelos músculos, favorecendo a resistência insulínica, um dos mecanismos que levam ao diabetes tipo 2. Além disso, há aumento dos níveis de triglicerídeos e colesterol LDL, ao mesmo tempo em que o colesterol HDL (considerado protetor) tende a diminuir. O resultado é um ambiente metabólico altamente propício à aterosclerose, com formação de placas que obstruem artérias e podem levar ao infarto ou ao acidente vascular cerebral. Outro aspecto importante é a circulação sanguínea. Quando permanecemos imóveis por muito tempo, a bomba muscular das pernas – responsável por impulsionar o sangue de volta ao coração – fica inativa, favorecendo o acúmulo de sangue nas extremidades e aumentando o risco de trombose venosa profunda. Essa condição, quando evolui para embolia pulmonar, pode ser fatal. Há ainda o impacto hemodinâmico: a imobilidade prolongada reduz a variabilidade da frequência cardíaca, um indicador de resiliência do sistema cardiovascular. No campo da ciência comportamental, estudos apontam que o sedentarismo digital não afeta apenas o corpo, mas também a mente. O excesso de tempo diante de telas está relacionado ao aumento do estresse crônico, à alteração nos ciclos de sono e à maior prevalência de depressão e ansiedade. A Fiocruz reforça que esses fatores psicológicos também aumentam a probabilidade de complicações cardiovasculares. Estratégias para um cotidiano mais saudável Um dos maiores desafios atuais é quebrar o ciclo de inatividade imposto pela rotina digital. A ciência já demonstrou que pequenas pausas ao longo do dia podem ser tão relevantes quanto a prática regular de exercícios estruturados. Levantar-se a cada hora, realizar curtas caminhadas, subir escadas em vez de usar elevadores e alongar-se durante reuniões virtuais são medidas simples, mas eficazes. Há evidências de que até mesmo poucos minutos de movimento leve já melhoram a sensibilidade à insulina e estimulam a circulação. Nesse contexto, empresas e instituições também têm papel fundamental. Programas de pausas ativas, incentivo ao uso de mesas reguláveis em altura e conscientização sobre ergonomia podem reduzir significativamente os riscos associados ao sedentarismo ocupacional. Outro ponto relevante é o lazer: reduzir o tempo passivo em frente a telas e buscar atividades sociais, culturais ou esportivas é uma forma de proteger o coração de maneira indireta, ao melhorar a saúde mental e diminuir os níveis de estresse. Por fim, é importante compreender que o futuro da saúde cardiovascular passará por um equilíbrio delicado: conciliar os avanços tecnológicos, que continuarão presentes e crescendo, com a preservação de hábitos que mantenham o corpo ativo ao longo do dia. A ciência já demonstrou que a chave não está apenas em praticar exercícios, mas em cultivar uma rotina de movimento contínuo. Mais do que nunca, cuidar do coração significa também repensar a forma como interagimos com o mundo digital.
By Fernando Figueira August 23, 2025
O transplante cardíaco é considerado um dos procedimentos mais complexos da medicina moderna. Ele representa a última alternativa para pacientes com insuficiência cardíaca avançada, quando todas as demais terapias clínicas e cirúrgicas já não oferecem controle adequado da doença. Em linhas gerais, o procedimento consiste na retirada completa do coração doente e sua substituição por um coração saudável proveniente de um doador em morte encefálica, cuja compatibilidade é avaliada a partir de critérios clínicos e imunológicos. O processo envolve desde a manutenção adequada do órgão até a implantação, que só pode ser realizada em centros altamente especializados, com equipes multidisciplinares experientes e estrutura hospitalar complexa. No Brasil, esse procedimento é integralmente garantido pelo Sistema Único de Saúde (SUS), o que coloca o país em posição de destaque mundial: somos o segundo maior sistema de transplantes do mundo em números absolutos, atrás apenas dos Estados Unidos, segundo o Ministério da Saúde . Como funciona a prioridade na fila de transplantes Mas como se organiza a fila de transplantes? Esse ponto tem gerado muitas dúvidas entre a população, especialmente após o caso recente do apresentador Fausto Silva, que precisou passar por um transplante cardíaco e, posteriormente, por um transplante de rim. A impressão de que celebridades recebem órgãos mais rapidamente não corresponde à realidade. No Brasil, a fila é única, nacional e gerida pelo Sistema Nacional de Transplantes (SNT), órgão do Ministério da Saúde. Todos os pacientes, independentemente de origem social ou financeira, são cadastrados com base em critérios técnicos. No caso do coração, a prioridade é definida pela gravidade clínica e pela chance de sobrevida do paciente. Indivíduos internados em unidades de terapia intensiva, dependentes de drogas vasoativas, de dispositivos de assistência circulatória como o balão intra-aórtico ou até mesmo de oxigenação por membrana extracorpórea (ECMO), possuem prioridade nacional. Isso significa que, se um coração compatível surgir em qualquer estado do país, ele pode ser destinado diretamente a esse paciente crítico, independentemente do tempo de inscrição na fila. É exatamente essa dinâmica que explica a rapidez de alguns casos, como o de Faustão, que estava em condição clínica grave e, portanto, tinha prioridade de acortdo com a regulamentação do SNT . O desafio científico do transplante cardíaco Do ponto de vista científico, a cirurgia de transplante cardíaco é um desafio não apenas pelo ato técnico de substituir um órgão vital, mas também pelo manejo imunológico posterior. O organismo humano tende naturalmente a rejeitar tecidos que reconhece como estranhos. Por isso, antes da cirurgia, são avaliadas variáveis como grupo sanguíneo, peso, altura e tipagem de antígenos do sistema HLA. Mesmo assim, após o transplante, o paciente precisará de imunossupressores por toda a vida, drogas que evitam a rejeição aguda, mas aumentam a vulnerabilidade a infecções e neoplasias. Esse equilíbrio delicado entre prolongar a sobrevida e reduzir complicações é um dos grandes desafios da medicina cardiovascular moderna. O SUS como guardião da equidade e da sobrevida Nesse contexto, o papel do SUS é determinante. O sistema não apenas financia integralmente o procedimento cirúrgico em hospitais credenciados e altamente especializados, mas também garante o fornecimento contínuo das medicações imunossupressoras e o acompanhamento clínico multiprofissional indispensável à sobrevida a longo prazo. Após a cirurgia, esses pacientes precisam de consultas regulares, exames laboratoriais e biópsias endomiocárdicas periódicas para avaliar sinais de rejeição, além de acompanhamento com infectologistas, cardiologistas, psicólogos e equipes de enfermagem. Todo esse cuidado está estruturado dentro da rede pública de saúde, permitindo que brasileiros de diferentes regiões e condições sociais tenham acesso ao que há de mais avançado em medicina cardiovascular. Ainda assim, os avanços são notáveis: no Brasil, cerca de 80% dos pacientes que passam pelo transplante cardíaco sobrevivem ao primeiro ano, taxa comparável a países desenvolvidos. Essa conquista só é possível porque o SUS criou, ao longo de três décadas, uma rede integrada de captação, distribuição e transplante, com protocolos transparentes e resultados auditáveis. Além disso, o sistema também é responsável por manter bancos de dados nacionais que permitem monitorar indicadores de sobrevida, qualidade de vida e custo-efetividade, reforçando que se trata não apenas de uma política de saúde pública, mas também de uma política de Estado, sustentada pela solidariedade de milhares de famílias que autorizam a doação de órgãos.
By Fernando Figueira August 8, 2025
Você já parou para pensar em quanto o coração trabalha por você todos os dias? Sem pausas, sem descanso, ele pulsa cerca de 100 mil vezes por dia , movimentando sangue, oxigênio e vida para todo o seu corpo. Cuidar desse órgão tão importante vai muito além de evitar alimentos gordurosos ou fazer uma caminhada. A longevidade cardíaca depende de atenção constante, escolhas conscientes e, mais do que isso, de uma visão integrada da saúde. O que é longevidade cardíaca e por que ela importa? Longevidade cardíaca é a capacidade de manter o coração saudável, eficiente e funcional por toda a vida. Mais do que simplesmente acumular anos, trata-se de viver bem, com vitalidade, disposição e liberdade para realizar atividades do dia a dia sem limitações impostas por doenças cardiovasculares. Quando o coração funciona de forma adequada, todo o organismo se beneficia : há melhor oxigenação dos tecidos, equilíbrio da pressão arterial, regulação dos batimentos cardíacos e uma resposta mais eficiente a situações de estresse físico ou emocional. Essa longevidade não é fruto do acaso, ela é construída a partir de escolhas cotidianas. Bons hábitos, como alimentação balanceada, prática regular de atividade física, controle do estresse e acompanhamento médico, contribuem diretamente para a saúde do coração. E o melhor: nunca é tarde para começar. Mesmo mudanças simples, como caminhar mais ou dormir melhor, podem gerar efeitos positivos significativos. Investir na saúde cardíaca é, na prática, investir em mais anos de vida com qualidade, autonomia e bem-estar. Envelhecer é natural, mas adoecer nem sempre Com o tempo, é normal que ocorram mudanças no sistema cardiovascular: as artérias tendem a endurecer, o ritmo cardíaco pode se alterar e o risco de pressão alta aumenta. No entanto, muitos desses processos podem ser retardados ou controlados com intervenções simples, desde que feitas de forma contínua. 1. Durma bem, seu coração agradece Um bom sono é tão importante quanto alimentação ou exercício. Dormir menos de 6 horas por noite, com regularidade, está associado a maior risco de infarto, arritmias e hipertensão. Durante o sono profundo, o coração entra em modo de “manutenção”: frequência cardíaca diminui, pressão se equilibra e o corpo regula processos inflamatórios. 2. Respire melhor: cuide da saúde emocional A ciência já comprovou que estresse crônico e ansiedade afetam diretamente o coração. O cortisol em excesso, liberado nessas situações, contribui para o aumento da pressão arterial e para o acúmulo de gordura nas artérias. Práticas como respiração consciente, meditação guiada ou até pausas de 5 minutos durante o dia ajudam a reduzir esse impacto silencioso. 3. Movimento é medicina Não é novidade que o exercício faz bem ao coração, mas o que poucas pessoas sabem é que não é preciso correr uma maratona para ter benefícios reais. Caminhadas diárias de 30 minutos, subir escadas, dançar, cuidar do jardim ou até limpar a casa com mais vigor contam como atividade física e já ajudam a melhorar a circulação e controlar o colesterol. 4. Alimente-se de forma mais saudável Não se trata de uma dieta da moda, mas de entender que o que você come tem impacto direto na sua saúde cardiovascular. Reduzir alimentos ultraprocessados, consumir mais vegetais, frutas e gorduras boas (como azeite e castanhas) é um ótimo começo. Alimentos como peixes ricos em ômega-3, chá verde e cúrcuma também demonstram efeitos positivos sobre a função cardíaca. 5. Acompanhe sua saúde mesmo sem sintomas Muitas doenças do coração são silenciosas no início. Por isso, check-ups regulares com seu cardiologista são fundamentais. Medir pressão, avaliar colesterol, glicose, fazer exames de imagem quando indicado, tudo isso ajuda a antecipar riscos e agir antes que o problema aconteça. Para saber mais sobre as políticas de prevenção no Brasil, confira a Estratégia de Saúde Cardiovascular na APS do Ministério da Saúde . 6. Tenha vínculos e propósito Pode parecer distante da medicina, mas não é. Estudos mostram que pessoas que têm conexões sociais positivas, praticam a empatia e sentem que têm um propósito de vida tendem a viver mais e com menos doenças cardíacas. O coração, afinal, também sente. Cuidar do coração é cuidar da vida A longevidade cardíaca não depende de fórmulas milagrosas, e sim de atenção, rotina e equilíbrio. Pequenas mudanças no dia a dia, quando feitas com consistência, podem somar anos de vida com saúde e autonomia. Se você se interessa por temas como prevenção, qualidade de vida e as melhores estratégias para cuidar do coração, continue acompanhando o blog. Aqui, trago conteúdos atualizados, sempre com base científica, mas de forma clara e prática — para quem quer entender mais e cuidar melhor da própria saúde. E lembre-se: um acompanhamento médico regular é fundamental. Cuidar do seu coração hoje é investir num amanhã mais leve e duradouro.
By Fernando Figueira July 27, 2025
O fígado e o coração são dois órgãos essenciais para o funcionamento do nosso corpo, desempenhando papéis que vão muito além do que imaginamos no dia a dia. Embora estejam em sistemas diferentes — o fígado no sistema digestivo e o coração no sistema circulatório — suas funções estão profundamente interligadas. O equilíbrio entre esses órgãos é fundamental para manter a saúde geral e prevenir o desenvolvimento de doenças crônicas que podem impactar a qualidade e a expectativa de vida. Neste mês, no dia 28 de julho, é celebrado o Dia Mundial da Hepatite , um momento importante para refletir sobre a prevenção, o diagnóstico e o tratamento das hepatites virais, que afetam diretamente o fígado. Mas essa data também serve para lembrar que as condições que comprometem o fígado podem afetar o coração e vice-versa por meio de processos inflamatórios, metabólicos e circulatórios que interligam esses órgãos. Como as doenças do fígado afetam o coração? Doenças hepáticas, sejam elas causadas por infecções virais como as hepatites B e C, ou por condições metabólicas como a esteatose hepática não alcoólica (popularmente conhecida como fígado gorduroso), podem desencadear uma série de alterações que impactam a saúde cardiovascular. O fígado é responsável por funções vitais, como o metabolismo de gorduras, a produção de proteínas plasmáticas (incluindo aquelas envolvidas na coagulação do sangue), e a regulação do equilíbrio energético do corpo. Quando o fígado está comprometido, essas funções são prejudicadas, gerando desequilíbrios que vão além do órgão em si. Por exemplo, a inflamação crônica associada a doenças hepáticas promove o aumento dos níveis de citocinas pró-inflamatórias circulantes, como o TNF-alfa e a interleucina-6, que contribuem para a disfunção endotelial — um fator chave no desenvolvimento da aterosclerose, ou seja, o acúmulo de placas nas paredes das artérias. Essas placas reduzem a elasticidade vascular e o fluxo sanguíneo, elevando o risco de doenças como hipertensão arterial , doença arterial coronariana , infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral (AVC) . Além disso, pacientes com esteatose hepática não alcoólica frequentemente apresentam síndrome metabólica — um conjunto de condições que inclui resistência à insulina, obesidade abdominal, dislipidemia e pressão alta — que são fatores de risco independentes para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Estudos indicam que a esteatose hepática aumenta significativamente o risco de mortalidade por causas cardiovasculares, mesmo quando controlados outros fatores tradicionais. Outro ponto importante são as alterações na coagulação do sangue. O fígado produz fatores que controlam a coagulação e a fibrinólise, e sua disfunção pode levar a um estado pró-trombótico, facilitando a formação de coágulos que podem obstruir vasos importantes, inclusive no coração e no cérebro. Por fim, as hepatites virais crônicas também estão associadas a um aumento do risco de arritmias cardíacas e insuficiência cardíaca, devido à inflamação sistêmica persistente e alterações no metabolismo lipídico. O tratamento eficaz dessas hepatites, com antivirais de ação direta, tem demonstrado reduzir eventos cardiovasculares a longo prazo, reforçando a importância do diagnóstico precoce e do manejo adequado. Quais sinais e sintomas merecem atenção? Embora muitas doenças hepáticas e cardíacas possam ser silenciosas nos estágios iniciais, alguns sintomas devem servir de alerta para procurar avaliação médica, como: Cansaço intenso e inexplicável; Inchaço nas pernas ou abdômen (ascite); Palpitações, falta de ar ou dor no peito; Icterícia (coloração amarelada na pele e olhos); Pressão arterial elevada ou difícil de controlar. A detecção precoce, com exames laboratoriais e de imagem, é fundamental para evitar complicações graves e garantir um tratamento eficaz. Como proteger seu fígado e seu coração de forma integrada? A boa notícia é que diversas medidas simples e práticas podem beneficiar tanto o fígado quanto o coração: Exames regulares : Avaliar a função hepática (enzimas TGO, TGP, GGT), perfil lipídico, glicemia e pressão arterial ajuda a identificar alterações precoces. Alimentação equilibrada : Reduzir o consumo de alimentos ultraprocessados, açúcares e gorduras saturadas; priorizar frutas, vegetais, fibras e gorduras saudáveis (como azeite e oleaginosas). Atividade física regular : O exercício melhora a sensibilidade à insulina, reduz a gordura acumulada no fígado e fortalece o sistema cardiovascular. Moderação no álcool : O consumo excessivo prejudica diretamente o fígado e agrava o risco cardiovascular. Controle do estresse e sono adequado : Ambos influenciam a inflamação sistêmica e a saúde dos órgãos. Acompanhamento médico especializado : Em casos de hepatite ou outras doenças crônicas, o monitoramento conjunto com hepatologista e cardiologista é fundamental para ajustar tratamentos e prevenir complicações. Cuidar do fígado é proteger o coração E ntender a conexão entre fígado e coração é fundamental para uma abordagem de saúde mais completa e eficaz. A prevenção integrada, que considera os dois órgãos e o corpo como um sistema único, é o caminho para evitar doenças graves e viver com mais qualidade. Neste mês em que reforçamos a importância da prevenção da hepatite, aproveite para cuidar também da sua saúde cardiovascular. Marque seus exames, mantenha hábitos saudáveis e busque acompanhamento médico regular, o seu coração e o seu fígado agradecem.
By Fernando Figueira June 29, 2025
O envelhecimento populacional é uma das grandes transformações demográficas do século XXI. Com o avanço da medicina, da tecnologia e do acesso à saúde, as pessoas vivem mais e, muitas vezes, com múltiplas comorbidades crônicas. Em meio a esse cenário, cresce a presença de pacientes idosos com doenças cardíacas estruturais potencialmente tratáveis por cirurgia. A pergunta que se impõe é: até que ponto operar é a melhor escolha? A cirurgia cardiovascular em idosos é um campo desafiador, que exige equilíbrio entre conhecimento técnico, sensibilidade clínica e respeito à individualidade. Mais do que a idade cronológica, é preciso avaliar a funcionalidade, a fragilidade, o contexto social e os objetivos de vida de cada paciente. O perfil do novo idoso Segundo dados do IBGE, o Brasil já possui mais de 32 milhões de pessoas com 60 anos ou mais, e esse número deve dobrar até 2050. Com isso, não é raro encontrarmos pacientes octogenários ativos, autônomos e engajados em sua própria saúde. No entanto, a presença de doenças cardiovasculares aumenta com a idade, especialmente as doenças valvares degenerativas (como a estenose aórtica), a doença arterial coronariana e as arritmias. Muitas dessas condições têm indicação cirúrgica formal, mesmo em pacientes com idade avançada. Fragilidade: o fator que muda tudo Uma das grandes viradas na avaliação pré-operatória foi a incorporação do conceito de fragilidade — uma síndrome clínica que reflete vulnerabilidade fisiológica e reserva funcional reduzida. Um paciente idoso pode ter 82 anos e ainda assim não ser frágil, enquanto outro de 74 anos pode apresentar perda muscular, dificuldade de locomoção, desnutrição e declínio cognitivo. Avaliar a fragilidade não é uma etapa burocrática, mas sim determinante para prever risco de complicações, tempo de internação, capacidade de reabilitação e até sobrevida. Ferramentas como o índice de fragilidade clínica (CFS) ou testes de velocidade da marcha ajudam a compor esse cenário. Leia também: O que é cirurgia cardiovascular? Cirurgia convencional, minimamente invasiva ou transcateter? A tomada de decisão cirúrgica em idosos envolve também a escolha da melhor abordagem . Em casos de estenose aórtica grave , por exemplo, a cirurgia convencional ainda é padrão ouro em pacientes de baixo risco. No entanto, o avanço da TAVI (implante valvar aórtico transcateter) expandiu as possibilidades para idosos com risco cirúrgico elevado ou contraindicação a procedimentos abertos. Da mesma forma, técnicas minimamente invasivas para troca mitral ou revascularização do miocárdio podem reduzir tempo de internação, sangramento e dor no pós-operatório. O desafio está em individualizar a conduta , evitando tanto o excesso de zelo que posterga intervenções benéficas quanto a imprudência de indicar cirurgias em quem não suportaria o impacto. Quando a cirurgia transforma vidas É importante lembrar que muitos idosos chegam à consulta com limitações severas de qualidade de vida, cansaço aos mínimos esforços, edemas, angina, síncopes. Nesses casos, a cirurgia não é apenas um tratamento, mas um divisor de águas na trajetória do paciente. Quando bem indicada e conduzida por equipe experiente, pode devolver autonomia e ampliar a expectativa de vida com qualidade. Estudos como o STS Adult Cardiac Surgery Database mostram que a mortalidade operatória em octogenários caiu significativamente nos últimos 20 anos, graças a melhorias nos cuidados perioperatórios, na anestesia e na seleção dos casos. Ou seja, a idade isoladamente não deve ser fator de exclusão . Decisão compartilhada: ética e escuta Em um cenário de tantas variáveis, a decisão compartilhada ganha protagonismo. É papel do cirurgião explicar com clareza os riscos e benefícios de cada opção, inclusive da escolha por não operar. A participação da família, da equipe multidisciplinar e, sobretudo, do próprio paciente é essencial para respeitar valores, expectativas e desejos. Não é raro que a resposta esteja no meio do caminho: ajustar medicações, avaliar funcionalidade com fisioterapia pré-operatória, planejar uma cirurgia menos invasiva ou, em alguns casos, optar por cuidados paliativos com foco no conforto. A cirurgia cardíaca em pacientes idosos exige mais do que técnica. Exige escuta, bom senso, individualização e, acima de tudo, respeito pela dignidade de cada pessoa. Em um mundo onde viver mais é uma realidade, o desafio agora é garantir que essa vida longa também seja vivida com qualidade, segurança e autonomia e, para muitos, a cirurgia cardiovascular pode ser o caminho para isso. Quer saber se a cirurgia é indicada para você ou um familiar idoso? Agende uma consulta pelo nosso formulário de contato ou veja mais informações sobre consultas pré-operatórias .