Entendendo a insuficiência valvar aórtica: do diagnóstico ao tratamento

Fernando Figueira • September 15, 2023

A insuficiência valvar aórtica é uma condição cardíaca que muitos podem não conhecer, mas que tem implicações significativas para a saúde. Neste artigo, vamos abordar sobre o que é essa condição, suas causas, sintomas, diagnóstico e opções de tratamento. Continue lendo para obter uma melhor compreensão.


O que é a Válvula Aórtica?


A válvula aórtica, uma das quatro válvulas cardíacas fundamentais, desempenha um
papel vital na regulação do fluxo sanguíneo no coração. Localizada entre o ventrículo esquerdo, a principal câmara de bombeamento do coração, e a aorta, a maior artéria do corpo, sua função é essencial para a circulação.


Durante cada batimento cardíaco, à medida que o ventrículo esquerdo se contrai, ele bombeia sangue rico em oxigênio para a aorta. Para facilitar esse processo, a válvula aórtica se abre, e logo após o sangue ser liberado na aorta, ela se fecha, prevenindo o refluxo sanguíneo ao ventrículo esquerdo. Este mecanismo assegura que o sangue circule em uma direção única, do coração para o restante do corpo.


A saúde da válvula aórtica é crucial para
garantir que o sangue oxigenado seja adequadamente distribuído por todo o corpo, e qualquer irregularidade ou doença que a afete pode comprometer a circulação sanguínea e a entrega de oxigênio e nutrientes vitais.


Compreendendo a Insuficiência Valvar Aórtica


A insuficiência valvar aórtica, também conhecida como regurgitação aórtica, é uma condição cardíaca na qual a válvula aórtica não se fecha corretamente. Isso resulta que parte do sangue bombeado para a aorta retorne ao ventrículo esquerdo, em vez de seguir seu curso natural para o resto do corpo. Esta condição pode ser aguda, manifestando-se rapidamente, ou crônica, desenvolvendo-se lentamente ao longo de muitos anos.
Entender suas causas e sintomas é fundamental para o diagnóstico e um tratamento eficaz. 


Causas da Insuficiência Valvar Aórtica

Diversos fatores podem desencadear a insuficiência valvar aórtica. Com o envelhecimento, a válvula aórtica pode começar a se deteriorar, levando à insuficiência. Há também indivíduos que nascem com uma particularidade na válvula aórtica, possuindo apenas duas cúspides em vez de três, uma condição chamada de válvula aórtica bicúspide, que pode predispor à insuficiência no futuro. Infecções como a endocardite podem afetar e danificar a válvula. Condições como a síndrome de Marfan, podem comprometer a integridade da válvula. Traumas físicos no tórax ou complicações decorrentes de cirurgias cardíacas também podem ser causadores.


Sintomas e Sinais

Quanto aos sintomas, eles podem variar amplamente, dependendo da gravidade e da rapidez com que a insuficiência se desenvolve. Em situações crônicas, os sintomas podem ser silenciosos por anos. Contudo, quando manifestos, incluem falta de ar, frequentemente intensificada por esforços físicos ou ao deitar, sensação constante de cansaço, inchaço nos tornozelos e pés, sensação de batimentos cardíacos irregulares ou fortes, desconforto ou dor torácica, tonturas e até desmaios em situações mais severas. Durante consultas médicas, um som característico, chamado de murmúrio cardíaco, pode ser detectado, indicando fluxo sanguíneo anormal.


É crucial procurar atendimento médico se você ou alguém que você conhece estiver experimentando esses sintomas
, especialmente se eles se agravarem ou ocorrerem repentinamente. A detecção precoce e o tratamento adequado podem ajudar a gerenciar a condição e prevenir complicações.


Diagnóstico da Insuficiência Valvar Aórtica


O diagnóstico da insuficiência valvar aórtica é fundamental para determinar a gravidade da condição e orientar as decisões de tratamento. A avaliação é uma combinação de exames clínicos e testes diagnósticos mais específicos.


Exames Clínicos

A avaliação clínica inicial de um paciente suspeito de ter insuficiência valvar aórtica começa com uma anamnese detalhada.  Durante essa consulta será verificado:


Histórico do Paciente
: O médico fará perguntas sobre os sintomas, histórico médico familiar e pessoal, e qualquer medicamento ou tratamento em curso. Isso ajuda o médico a entender melhor os riscos e a identificar possíveis sinais da doença.


Exame Físico
: O médico realizará um exame físico completo, prestando especial atenção ao coração. Usando um estetoscópio, o médico ouvirá os sons do coração e, havendo a presença de um murmúrio cardíaco, pode ser um indicativo.


Testes Diagnósticos

Se o médico suspeitar de insuficiência valvar aórtica com base no exame clínico, ele solicitará testes diagnósticos adicionais para confirmar a condição e determinar sua gravidade:

  • Ecocardiograma: Este é o teste mais comum para diagnosticar problemas valvares. Utilizando ondas sonoras para criar imagens detalhadas do coração, permitindo a observação direta da válvula aórtica em ação e determinar se ela está funcionando corretamente.
  • Cateterismo Cardíaco: Embora não seja usado rotineiramente apenas para diagnosticar a insuficiência valvar aórtica, este teste pode ajudar a determinar a gravidade da condição. Durante o cateterismo, um tubo fino é inserido em um vaso sanguíneo e guiado até o coração, permitindo ao médico medir a pressão dentro do coração e ver como o sangue flui através das câmaras e válvulas.
  • Radiografia de Tórax: Pode mostrar sinais de alterações no coração ou nos pulmões associadas à condição.
  • Eletrocardiograma (ECG): Este teste mede a atividade elétrica do coração e pode ajudar a identificar arritmias cardíacas, que podem ser um sinal de insuficiência valvar aórtica.
  • Ressonância Magnética Cardíaca: Este teste usa campos magnéticos e ondas de rádio para criar imagens detalhadas do coração e pode ser usado para determinar a gravidade da insuficiência valvar aórtica.


Abordagens de Tratamento


A insuficiência valvar aórtica, quando diagnosticada, requer uma
abordagem terapêutica adequada para garantir a saúde e o bem-estar do paciente. A natureza do tratamento é determinada pela severidade da condição e pelos sintomas manifestados, podendo abranger desde métodos não cirúrgicos até intervenções cirúrgicas mais invasivas.


Tratamentos Não Cirúrgicos

Para casos de insuficiência valvar aórtica leve a moderada, ou quando o paciente não é um candidato ideal para cirurgia, as abordagens não cirúrgicas são frequentemente recomendadas:


Medicamentos: 

Vários medicamentos podem ser prescritos para ajudar a aliviar os sintomas e prevenir a progressão da doença, como:

Diuréticos: Ajudam a eliminar o excesso de líquidos e a reduzir o inchaço.

Betabloqueadores: Reduzem a pressão arterial e a frequência cardíaca.

Inibidores da ECA ou bloqueadores dos receptores da angiotensina: Auxiliam no relaxamento dos vasos sanguíneos e na redução da pressão arterial.

Vasodilatadores: Alargam os vasos sanguíneos, facilitando o fluxo sanguíneo.


Monitoramento Regular: 

Pacientes com insuficiência valvar aórtica leve podem não necessitar de tratamento imediato, mas é essencial um acompanhamento regular com cardiologistas para monitorar qualquer evolução dos sintomas.


Mudanças no Estilo de Vida: 

Adotar um estilo de vida saudável pode ajudar a gerenciar os sintomas e retardar a progressão da doença. Como uma dieta equilibrada, exercícios regulares (conforme orientação médica), evitar o tabagismo e moderação no consumo de álcool.


Procedimentos Cirúrgicos

Quando a insuficiência valvar aórtica é grave ou compromete significativamente a qualidade de vida do paciente, procedimentos cirúrgicos podem ser indicados:


Substituição da Válvula Aórtica: 

Em casos onde a válvula está severamente comprometida, sua substituição se faz necessária. A válvula danificada é removida e substituída por uma válvula artificial ou biológica.


Reparo da Válvula Aórtica: 

Em alguns casos, a válvula pode ser reparada, envolvendo a remoção de excesso de tecido valvar, a reconexão de folhetos da válvula ou o estreitamento do anel valvar.


Intervenção Percutânea: 

Uma alternativa menos invasiva à cirurgia convencional, onde dispositivos ou válvulas são inseridos através de um cateter.


A decisão sobre o tratamento mais adequado leva em consideração a gravidade da insuficiência, o estado geral de saúde do paciente e outros fatores individuais. O foco principal é sempre potencializar a qualidade de vida do paciente, aliviar os sintomas e prevenir complicações futuras.


Perguntas Relacionadas


Como tratar insuficiência aórtica?

O tratamento varia conforme a gravidade da condição, podendo ser desde medicamentos para aliviar os sintomas, mudanças no estilo de vida até a cirurgias como valvuloplastia ou substituição da válvula aórtica.


O que significa valva aórtica insuficiente?

Valva aórtica insuficiente significa que a válvula aórtica não fecha corretamente, permitindo que o sangue volte ao coração em vez de seguir para o resto do corpo.


Qual tratamento para quem tem insuficiência aórtica moderada?

Para insuficiência aórtica moderada o tratamento pode envolver medicamentos e acompanhamento regular com um cardiologista.


O que quer dizer insuficiência aórtica de grau mínimo?

Insuficiência aórtica de grau mínimo indica uma forma muito leve de vazamento na válvula aórtica, que, em geral, não apresenta sintomas significativos.


Se tiver qualquer dúvida sobre algo que está sentindo,
sempre busque o atendimento de um médico.


Conclusão


A insuficiência valvar aórtica é uma condição que requer atenção e cuidado médico adequado.
Com o diagnóstico precoce e o tratamento apropriado, muitos pacientes podem levar vidas normais e saudáveis. A conscientização e a educação sobre essa condição são essenciais para garantir que os pacientes recebam o cuidado de que necessitam.


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By Fernando Figueira October 24, 2025
Outubro é o mês em que o mundo se veste de rosa para reforçar a importância da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de mama , o tipo de câncer mais comum entre as mulheres em todo o mundo. Mas há um aspecto ainda pouco discutido nessa conversa: o impacto que o tratamento oncológico pode ter sobre o coração . Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA) , o Brasil registra cerca de 73 mil novos casos de câncer de mama por ano , o que representa aproximadamente 20% de todos os diagnósticos de câncer em mulheres, excluídos os tumores de pele não melanoma. A taxa de sobrevida tem aumentado graças aos avanços no diagnóstico precoce e nas terapias oncológicas, mas o cuidado não deve terminar com o fim do tratamento. Para muitas pacientes, o acompanhamento do coração é essencial, já que o tratamento pode impactar diretamente a saúde cardiovascular. O que o câncer de mama tem a ver com o coração? O elo entre o câncer de mama e o sistema cardiovascular está nas terapias utilizadas para combater o tumor. Medicamentos como as antraciclinas (doxorrubicina, por exemplo) e agentes-alquilantes, além da radioterapia na região torácica, podem causar cardiotoxicidade — ou seja, danos ao músculo cardíaco e às funções do coração. Além disso, a radioterapia na região torácica, especialmente quando o lado esquerdo é tratado, pode afetar vasos e tecidos próximos, aumentando o risco de doença arterial coronariana anos após o término do tratamento. Isso significa que mesmo pacientes consideradas curadas do câncer devem manter o acompanhamento cardiológico regular. O papel da cardio-oncologia e do acompanhamento multidisciplinar A cardio-oncologia é uma área relativamente nova, mas essencial, que une oncologistas, cardiologistas, cirurgiões cardiovasculares, fisioterapeutas e nutricionistas em torno de um objetivo comum: proteger o coração durante e após o tratamento do câncer. Esse acompanhamento começa antes mesmo da primeira sessão de quimioterapia, com uma avaliação cardiovascular pré-tratamento, que identifica pacientes com maior risco de complicações. Durante o tratamento, exames como o ecocardiograma ajudam a monitorar o desempenho do coração, permitindo intervenções precoces caso surjam alterações. Após o tratamento, o seguimento deve continuar. Um estilo de vida saudável, controle da pressão arterial, prática de atividade física regular e alimentação equilibrada são pilares para preservar a função cardíaca e reduzir riscos futuros. Cuidar do coração é também cuidar da vida A jornada contra o câncer de mama é complexa e exige coragem, mas também integração entre especialidades médicas. A paciente que passa por um diagnóstico de câncer não deve ser vista apenas sob o olhar oncológico — ela é um ser integral, com corpo, mente e coração. No Brasil, o SUS tem ampliado o acesso à atenção especializada e ao cuidado integrado, com políticas que fortalecem o acompanhamento de longo prazo das mulheres que venceram o câncer. Esse é um passo importante para garantir não apenas sobrevida, mas qualidade de vida. Outubro Rosa é, portanto, mais do que um lembrete para o autoexame. É um convite para um olhar mais amplo sobre a saúde feminina: prevenir o câncer e cuidar do coração caminham juntos.
By Fernando Figueira September 17, 2025
A era digital e a rotina sedentária O avanço da tecnologia transformou a forma como trabalhamos, nos comunicamos e nos divertimos. Hoje, é possível realizar grande parte das tarefas diárias sem sequer sair de casa: reuniões acontecem por videoconferência, compras são feitas por aplicativos e o lazer, muitas vezes, se resume a séries, filmes e redes sociais. Essa revolução trouxe inegáveis facilidades, mas também consolidou um estilo de vida cada vez mais sedentário. O problema não está apenas na ausência de atividade física regular, mas na soma de longas horas diante de telas, que reduzem o gasto energético diário de forma significativa. Mesmo indivíduos que se dedicam à academia algumas vezes por semana podem sofrer os efeitos do chamado “sedentarismo ocupacional”, caracterizado pela imobilidade prolongada no restante do dia. De acordo com o Ministério da Saúde , o sedentarismo é um dos principais fatores de risco para doenças crônicas não transmissíveis, incluindo problemas cardiovasculares. Pesquisas recentes mostram que o comportamento sedentário tem impacto independente do nível de atividade física. Em outras palavras, correr ou pedalar durante 40 minutos no início do dia não é suficiente para neutralizar os riscos de passar oito ou dez horas consecutivas sentado. Essa realidade é particularmente preocupante em sociedades urbanas e digitalizadas, onde o tempo de tela vem crescendo em todas as faixas etárias Como o sedentarismo afeta o coração A relação entre o sedentarismo digital e a saúde cardiovascular é multifatorial. Permanecer sentado por mais de oito horas diárias está associado a maior risco de doenças coronarianas, insuficiência cardíaca e até arritmias. A Sociedade Brasileira de Cardiologia alerta que a falta de movimento prolongada aumenta consideravelmente a probabilidade de desenvolver doenças do coração. Do ponto de vista metabólico, a inatividade prolongada reduz a captação de glicose pelos músculos, favorecendo a resistência insulínica, um dos mecanismos que levam ao diabetes tipo 2. Além disso, há aumento dos níveis de triglicerídeos e colesterol LDL, ao mesmo tempo em que o colesterol HDL (considerado protetor) tende a diminuir. O resultado é um ambiente metabólico altamente propício à aterosclerose, com formação de placas que obstruem artérias e podem levar ao infarto ou ao acidente vascular cerebral. Outro aspecto importante é a circulação sanguínea. Quando permanecemos imóveis por muito tempo, a bomba muscular das pernas – responsável por impulsionar o sangue de volta ao coração – fica inativa, favorecendo o acúmulo de sangue nas extremidades e aumentando o risco de trombose venosa profunda. Essa condição, quando evolui para embolia pulmonar, pode ser fatal. Há ainda o impacto hemodinâmico: a imobilidade prolongada reduz a variabilidade da frequência cardíaca, um indicador de resiliência do sistema cardiovascular. No campo da ciência comportamental, estudos apontam que o sedentarismo digital não afeta apenas o corpo, mas também a mente. O excesso de tempo diante de telas está relacionado ao aumento do estresse crônico, à alteração nos ciclos de sono e à maior prevalência de depressão e ansiedade. A Fiocruz reforça que esses fatores psicológicos também aumentam a probabilidade de complicações cardiovasculares. Estratégias para um cotidiano mais saudável Um dos maiores desafios atuais é quebrar o ciclo de inatividade imposto pela rotina digital. A ciência já demonstrou que pequenas pausas ao longo do dia podem ser tão relevantes quanto a prática regular de exercícios estruturados. Levantar-se a cada hora, realizar curtas caminhadas, subir escadas em vez de usar elevadores e alongar-se durante reuniões virtuais são medidas simples, mas eficazes. Há evidências de que até mesmo poucos minutos de movimento leve já melhoram a sensibilidade à insulina e estimulam a circulação. Nesse contexto, empresas e instituições também têm papel fundamental. Programas de pausas ativas, incentivo ao uso de mesas reguláveis em altura e conscientização sobre ergonomia podem reduzir significativamente os riscos associados ao sedentarismo ocupacional. Outro ponto relevante é o lazer: reduzir o tempo passivo em frente a telas e buscar atividades sociais, culturais ou esportivas é uma forma de proteger o coração de maneira indireta, ao melhorar a saúde mental e diminuir os níveis de estresse. Por fim, é importante compreender que o futuro da saúde cardiovascular passará por um equilíbrio delicado: conciliar os avanços tecnológicos, que continuarão presentes e crescendo, com a preservação de hábitos que mantenham o corpo ativo ao longo do dia. A ciência já demonstrou que a chave não está apenas em praticar exercícios, mas em cultivar uma rotina de movimento contínuo. Mais do que nunca, cuidar do coração significa também repensar a forma como interagimos com o mundo digital.
By Fernando Figueira August 23, 2025
O transplante cardíaco é considerado um dos procedimentos mais complexos da medicina moderna. Ele representa a última alternativa para pacientes com insuficiência cardíaca avançada, quando todas as demais terapias clínicas e cirúrgicas já não oferecem controle adequado da doença. Em linhas gerais, o procedimento consiste na retirada completa do coração doente e sua substituição por um coração saudável proveniente de um doador em morte encefálica, cuja compatibilidade é avaliada a partir de critérios clínicos e imunológicos. O processo envolve desde a manutenção adequada do órgão até a implantação, que só pode ser realizada em centros altamente especializados, com equipes multidisciplinares experientes e estrutura hospitalar complexa. No Brasil, esse procedimento é integralmente garantido pelo Sistema Único de Saúde (SUS), o que coloca o país em posição de destaque mundial: somos o segundo maior sistema de transplantes do mundo em números absolutos, atrás apenas dos Estados Unidos, segundo o Ministério da Saúde . Como funciona a prioridade na fila de transplantes Mas como se organiza a fila de transplantes? Esse ponto tem gerado muitas dúvidas entre a população, especialmente após o caso recente do apresentador Fausto Silva, que precisou passar por um transplante cardíaco e, posteriormente, por um transplante de rim. A impressão de que celebridades recebem órgãos mais rapidamente não corresponde à realidade. No Brasil, a fila é única, nacional e gerida pelo Sistema Nacional de Transplantes (SNT), órgão do Ministério da Saúde. Todos os pacientes, independentemente de origem social ou financeira, são cadastrados com base em critérios técnicos. No caso do coração, a prioridade é definida pela gravidade clínica e pela chance de sobrevida do paciente. Indivíduos internados em unidades de terapia intensiva, dependentes de drogas vasoativas, de dispositivos de assistência circulatória como o balão intra-aórtico ou até mesmo de oxigenação por membrana extracorpórea (ECMO), possuem prioridade nacional. Isso significa que, se um coração compatível surgir em qualquer estado do país, ele pode ser destinado diretamente a esse paciente crítico, independentemente do tempo de inscrição na fila. É exatamente essa dinâmica que explica a rapidez de alguns casos, como o de Faustão, que estava em condição clínica grave e, portanto, tinha prioridade de acortdo com a regulamentação do SNT . O desafio científico do transplante cardíaco Do ponto de vista científico, a cirurgia de transplante cardíaco é um desafio não apenas pelo ato técnico de substituir um órgão vital, mas também pelo manejo imunológico posterior. O organismo humano tende naturalmente a rejeitar tecidos que reconhece como estranhos. Por isso, antes da cirurgia, são avaliadas variáveis como grupo sanguíneo, peso, altura e tipagem de antígenos do sistema HLA. Mesmo assim, após o transplante, o paciente precisará de imunossupressores por toda a vida, drogas que evitam a rejeição aguda, mas aumentam a vulnerabilidade a infecções e neoplasias. Esse equilíbrio delicado entre prolongar a sobrevida e reduzir complicações é um dos grandes desafios da medicina cardiovascular moderna. O SUS como guardião da equidade e da sobrevida Nesse contexto, o papel do SUS é determinante. O sistema não apenas financia integralmente o procedimento cirúrgico em hospitais credenciados e altamente especializados, mas também garante o fornecimento contínuo das medicações imunossupressoras e o acompanhamento clínico multiprofissional indispensável à sobrevida a longo prazo. Após a cirurgia, esses pacientes precisam de consultas regulares, exames laboratoriais e biópsias endomiocárdicas periódicas para avaliar sinais de rejeição, além de acompanhamento com infectologistas, cardiologistas, psicólogos e equipes de enfermagem. Todo esse cuidado está estruturado dentro da rede pública de saúde, permitindo que brasileiros de diferentes regiões e condições sociais tenham acesso ao que há de mais avançado em medicina cardiovascular. Ainda assim, os avanços são notáveis: no Brasil, cerca de 80% dos pacientes que passam pelo transplante cardíaco sobrevivem ao primeiro ano, taxa comparável a países desenvolvidos. Essa conquista só é possível porque o SUS criou, ao longo de três décadas, uma rede integrada de captação, distribuição e transplante, com protocolos transparentes e resultados auditáveis. Além disso, o sistema também é responsável por manter bancos de dados nacionais que permitem monitorar indicadores de sobrevida, qualidade de vida e custo-efetividade, reforçando que se trata não apenas de uma política de saúde pública, mas também de uma política de Estado, sustentada pela solidariedade de milhares de famílias que autorizam a doação de órgãos.
By Fernando Figueira August 8, 2025
Você já parou para pensar em quanto o coração trabalha por você todos os dias? Sem pausas, sem descanso, ele pulsa cerca de 100 mil vezes por dia , movimentando sangue, oxigênio e vida para todo o seu corpo. Cuidar desse órgão tão importante vai muito além de evitar alimentos gordurosos ou fazer uma caminhada. A longevidade cardíaca depende de atenção constante, escolhas conscientes e, mais do que isso, de uma visão integrada da saúde. O que é longevidade cardíaca e por que ela importa? Longevidade cardíaca é a capacidade de manter o coração saudável, eficiente e funcional por toda a vida. Mais do que simplesmente acumular anos, trata-se de viver bem, com vitalidade, disposição e liberdade para realizar atividades do dia a dia sem limitações impostas por doenças cardiovasculares. Quando o coração funciona de forma adequada, todo o organismo se beneficia : há melhor oxigenação dos tecidos, equilíbrio da pressão arterial, regulação dos batimentos cardíacos e uma resposta mais eficiente a situações de estresse físico ou emocional. Essa longevidade não é fruto do acaso, ela é construída a partir de escolhas cotidianas. Bons hábitos, como alimentação balanceada, prática regular de atividade física, controle do estresse e acompanhamento médico, contribuem diretamente para a saúde do coração. E o melhor: nunca é tarde para começar. Mesmo mudanças simples, como caminhar mais ou dormir melhor, podem gerar efeitos positivos significativos. Investir na saúde cardíaca é, na prática, investir em mais anos de vida com qualidade, autonomia e bem-estar. Envelhecer é natural, mas adoecer nem sempre Com o tempo, é normal que ocorram mudanças no sistema cardiovascular: as artérias tendem a endurecer, o ritmo cardíaco pode se alterar e o risco de pressão alta aumenta. No entanto, muitos desses processos podem ser retardados ou controlados com intervenções simples, desde que feitas de forma contínua. 1. Durma bem, seu coração agradece Um bom sono é tão importante quanto alimentação ou exercício. Dormir menos de 6 horas por noite, com regularidade, está associado a maior risco de infarto, arritmias e hipertensão. Durante o sono profundo, o coração entra em modo de “manutenção”: frequência cardíaca diminui, pressão se equilibra e o corpo regula processos inflamatórios. 2. Respire melhor: cuide da saúde emocional A ciência já comprovou que estresse crônico e ansiedade afetam diretamente o coração. O cortisol em excesso, liberado nessas situações, contribui para o aumento da pressão arterial e para o acúmulo de gordura nas artérias. Práticas como respiração consciente, meditação guiada ou até pausas de 5 minutos durante o dia ajudam a reduzir esse impacto silencioso. 3. Movimento é medicina Não é novidade que o exercício faz bem ao coração, mas o que poucas pessoas sabem é que não é preciso correr uma maratona para ter benefícios reais. Caminhadas diárias de 30 minutos, subir escadas, dançar, cuidar do jardim ou até limpar a casa com mais vigor contam como atividade física e já ajudam a melhorar a circulação e controlar o colesterol. 4. Alimente-se de forma mais saudável Não se trata de uma dieta da moda, mas de entender que o que você come tem impacto direto na sua saúde cardiovascular. Reduzir alimentos ultraprocessados, consumir mais vegetais, frutas e gorduras boas (como azeite e castanhas) é um ótimo começo. Alimentos como peixes ricos em ômega-3, chá verde e cúrcuma também demonstram efeitos positivos sobre a função cardíaca. 5. Acompanhe sua saúde mesmo sem sintomas Muitas doenças do coração são silenciosas no início. Por isso, check-ups regulares com seu cardiologista são fundamentais. Medir pressão, avaliar colesterol, glicose, fazer exames de imagem quando indicado, tudo isso ajuda a antecipar riscos e agir antes que o problema aconteça. Para saber mais sobre as políticas de prevenção no Brasil, confira a Estratégia de Saúde Cardiovascular na APS do Ministério da Saúde . 6. Tenha vínculos e propósito Pode parecer distante da medicina, mas não é. Estudos mostram que pessoas que têm conexões sociais positivas, praticam a empatia e sentem que têm um propósito de vida tendem a viver mais e com menos doenças cardíacas. O coração, afinal, também sente. Cuidar do coração é cuidar da vida A longevidade cardíaca não depende de fórmulas milagrosas, e sim de atenção, rotina e equilíbrio. Pequenas mudanças no dia a dia, quando feitas com consistência, podem somar anos de vida com saúde e autonomia. Se você se interessa por temas como prevenção, qualidade de vida e as melhores estratégias para cuidar do coração, continue acompanhando o blog. Aqui, trago conteúdos atualizados, sempre com base científica, mas de forma clara e prática — para quem quer entender mais e cuidar melhor da própria saúde. E lembre-se: um acompanhamento médico regular é fundamental. Cuidar do seu coração hoje é investir num amanhã mais leve e duradouro.
By Fernando Figueira July 27, 2025
O fígado e o coração são dois órgãos essenciais para o funcionamento do nosso corpo, desempenhando papéis que vão muito além do que imaginamos no dia a dia. Embora estejam em sistemas diferentes — o fígado no sistema digestivo e o coração no sistema circulatório — suas funções estão profundamente interligadas. O equilíbrio entre esses órgãos é fundamental para manter a saúde geral e prevenir o desenvolvimento de doenças crônicas que podem impactar a qualidade e a expectativa de vida. Neste mês, no dia 28 de julho, é celebrado o Dia Mundial da Hepatite , um momento importante para refletir sobre a prevenção, o diagnóstico e o tratamento das hepatites virais, que afetam diretamente o fígado. Mas essa data também serve para lembrar que as condições que comprometem o fígado podem afetar o coração e vice-versa por meio de processos inflamatórios, metabólicos e circulatórios que interligam esses órgãos. Como as doenças do fígado afetam o coração? Doenças hepáticas, sejam elas causadas por infecções virais como as hepatites B e C, ou por condições metabólicas como a esteatose hepática não alcoólica (popularmente conhecida como fígado gorduroso), podem desencadear uma série de alterações que impactam a saúde cardiovascular. O fígado é responsável por funções vitais, como o metabolismo de gorduras, a produção de proteínas plasmáticas (incluindo aquelas envolvidas na coagulação do sangue), e a regulação do equilíbrio energético do corpo. Quando o fígado está comprometido, essas funções são prejudicadas, gerando desequilíbrios que vão além do órgão em si. Por exemplo, a inflamação crônica associada a doenças hepáticas promove o aumento dos níveis de citocinas pró-inflamatórias circulantes, como o TNF-alfa e a interleucina-6, que contribuem para a disfunção endotelial — um fator chave no desenvolvimento da aterosclerose, ou seja, o acúmulo de placas nas paredes das artérias. Essas placas reduzem a elasticidade vascular e o fluxo sanguíneo, elevando o risco de doenças como hipertensão arterial , doença arterial coronariana , infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral (AVC) . Além disso, pacientes com esteatose hepática não alcoólica frequentemente apresentam síndrome metabólica — um conjunto de condições que inclui resistência à insulina, obesidade abdominal, dislipidemia e pressão alta — que são fatores de risco independentes para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Estudos indicam que a esteatose hepática aumenta significativamente o risco de mortalidade por causas cardiovasculares, mesmo quando controlados outros fatores tradicionais. Outro ponto importante são as alterações na coagulação do sangue. O fígado produz fatores que controlam a coagulação e a fibrinólise, e sua disfunção pode levar a um estado pró-trombótico, facilitando a formação de coágulos que podem obstruir vasos importantes, inclusive no coração e no cérebro. Por fim, as hepatites virais crônicas também estão associadas a um aumento do risco de arritmias cardíacas e insuficiência cardíaca, devido à inflamação sistêmica persistente e alterações no metabolismo lipídico. O tratamento eficaz dessas hepatites, com antivirais de ação direta, tem demonstrado reduzir eventos cardiovasculares a longo prazo, reforçando a importância do diagnóstico precoce e do manejo adequado. Quais sinais e sintomas merecem atenção? Embora muitas doenças hepáticas e cardíacas possam ser silenciosas nos estágios iniciais, alguns sintomas devem servir de alerta para procurar avaliação médica, como: Cansaço intenso e inexplicável; Inchaço nas pernas ou abdômen (ascite); Palpitações, falta de ar ou dor no peito; Icterícia (coloração amarelada na pele e olhos); Pressão arterial elevada ou difícil de controlar. A detecção precoce, com exames laboratoriais e de imagem, é fundamental para evitar complicações graves e garantir um tratamento eficaz. Como proteger seu fígado e seu coração de forma integrada? A boa notícia é que diversas medidas simples e práticas podem beneficiar tanto o fígado quanto o coração: Exames regulares : Avaliar a função hepática (enzimas TGO, TGP, GGT), perfil lipídico, glicemia e pressão arterial ajuda a identificar alterações precoces. Alimentação equilibrada : Reduzir o consumo de alimentos ultraprocessados, açúcares e gorduras saturadas; priorizar frutas, vegetais, fibras e gorduras saudáveis (como azeite e oleaginosas). Atividade física regular : O exercício melhora a sensibilidade à insulina, reduz a gordura acumulada no fígado e fortalece o sistema cardiovascular. Moderação no álcool : O consumo excessivo prejudica diretamente o fígado e agrava o risco cardiovascular. Controle do estresse e sono adequado : Ambos influenciam a inflamação sistêmica e a saúde dos órgãos. Acompanhamento médico especializado : Em casos de hepatite ou outras doenças crônicas, o monitoramento conjunto com hepatologista e cardiologista é fundamental para ajustar tratamentos e prevenir complicações. Cuidar do fígado é proteger o coração E ntender a conexão entre fígado e coração é fundamental para uma abordagem de saúde mais completa e eficaz. A prevenção integrada, que considera os dois órgãos e o corpo como um sistema único, é o caminho para evitar doenças graves e viver com mais qualidade. Neste mês em que reforçamos a importância da prevenção da hepatite, aproveite para cuidar também da sua saúde cardiovascular. Marque seus exames, mantenha hábitos saudáveis e busque acompanhamento médico regular, o seu coração e o seu fígado agradecem.
By Fernando Figueira June 29, 2025
O envelhecimento populacional é uma das grandes transformações demográficas do século XXI. Com o avanço da medicina, da tecnologia e do acesso à saúde, as pessoas vivem mais e, muitas vezes, com múltiplas comorbidades crônicas. Em meio a esse cenário, cresce a presença de pacientes idosos com doenças cardíacas estruturais potencialmente tratáveis por cirurgia. A pergunta que se impõe é: até que ponto operar é a melhor escolha? A cirurgia cardiovascular em idosos é um campo desafiador, que exige equilíbrio entre conhecimento técnico, sensibilidade clínica e respeito à individualidade. Mais do que a idade cronológica, é preciso avaliar a funcionalidade, a fragilidade, o contexto social e os objetivos de vida de cada paciente. O perfil do novo idoso Segundo dados do IBGE, o Brasil já possui mais de 32 milhões de pessoas com 60 anos ou mais, e esse número deve dobrar até 2050. Com isso, não é raro encontrarmos pacientes octogenários ativos, autônomos e engajados em sua própria saúde. No entanto, a presença de doenças cardiovasculares aumenta com a idade, especialmente as doenças valvares degenerativas (como a estenose aórtica), a doença arterial coronariana e as arritmias. Muitas dessas condições têm indicação cirúrgica formal, mesmo em pacientes com idade avançada. Fragilidade: o fator que muda tudo Uma das grandes viradas na avaliação pré-operatória foi a incorporação do conceito de fragilidade — uma síndrome clínica que reflete vulnerabilidade fisiológica e reserva funcional reduzida. Um paciente idoso pode ter 82 anos e ainda assim não ser frágil, enquanto outro de 74 anos pode apresentar perda muscular, dificuldade de locomoção, desnutrição e declínio cognitivo. Avaliar a fragilidade não é uma etapa burocrática, mas sim determinante para prever risco de complicações, tempo de internação, capacidade de reabilitação e até sobrevida. Ferramentas como o índice de fragilidade clínica (CFS) ou testes de velocidade da marcha ajudam a compor esse cenário. Leia também: O que é cirurgia cardiovascular? Cirurgia convencional, minimamente invasiva ou transcateter? A tomada de decisão cirúrgica em idosos envolve também a escolha da melhor abordagem . Em casos de estenose aórtica grave , por exemplo, a cirurgia convencional ainda é padrão ouro em pacientes de baixo risco. No entanto, o avanço da TAVI (implante valvar aórtico transcateter) expandiu as possibilidades para idosos com risco cirúrgico elevado ou contraindicação a procedimentos abertos. Da mesma forma, técnicas minimamente invasivas para troca mitral ou revascularização do miocárdio podem reduzir tempo de internação, sangramento e dor no pós-operatório. O desafio está em individualizar a conduta , evitando tanto o excesso de zelo que posterga intervenções benéficas quanto a imprudência de indicar cirurgias em quem não suportaria o impacto. Quando a cirurgia transforma vidas É importante lembrar que muitos idosos chegam à consulta com limitações severas de qualidade de vida, cansaço aos mínimos esforços, edemas, angina, síncopes. Nesses casos, a cirurgia não é apenas um tratamento, mas um divisor de águas na trajetória do paciente. Quando bem indicada e conduzida por equipe experiente, pode devolver autonomia e ampliar a expectativa de vida com qualidade. Estudos como o STS Adult Cardiac Surgery Database mostram que a mortalidade operatória em octogenários caiu significativamente nos últimos 20 anos, graças a melhorias nos cuidados perioperatórios, na anestesia e na seleção dos casos. Ou seja, a idade isoladamente não deve ser fator de exclusão . Decisão compartilhada: ética e escuta Em um cenário de tantas variáveis, a decisão compartilhada ganha protagonismo. É papel do cirurgião explicar com clareza os riscos e benefícios de cada opção, inclusive da escolha por não operar. A participação da família, da equipe multidisciplinar e, sobretudo, do próprio paciente é essencial para respeitar valores, expectativas e desejos. Não é raro que a resposta esteja no meio do caminho: ajustar medicações, avaliar funcionalidade com fisioterapia pré-operatória, planejar uma cirurgia menos invasiva ou, em alguns casos, optar por cuidados paliativos com foco no conforto. A cirurgia cardíaca em pacientes idosos exige mais do que técnica. Exige escuta, bom senso, individualização e, acima de tudo, respeito pela dignidade de cada pessoa. Em um mundo onde viver mais é uma realidade, o desafio agora é garantir que essa vida longa também seja vivida com qualidade, segurança e autonomia e, para muitos, a cirurgia cardiovascular pode ser o caminho para isso. Quer saber se a cirurgia é indicada para você ou um familiar idoso? Agende uma consulta pelo nosso formulário de contato ou veja mais informações sobre consultas pré-operatórias . 
By Fernando Figueira June 27, 2025
Conheça os avanços do xenotransplante cardíaco e como o coração de porco pode ser a próxima fronteira da medicina cardiovascular.
By Fernando Figueira May 31, 2025
O coração é um órgão que trabalha incansavelmente para manter a vida. Seu ritmo é resultado de impulsos elétricos coordenados que garantem batimentos regulares e eficientes. No entanto, esse sistema pode falhar — e quando isso acontece, surgem as chamadas arritmias cardíacas. Nas últimas semanas, esse tema ganhou destaque na mídia, e não por acaso. Segundo especialistas, estamos vivendo uma verdadeira epidemia de arritmias, com crescimento expressivo no número de diagnósticos. A estimativa da Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas (SOBRAC) aponta que 20 milhões de brasileiros convivem com algum tipo dessa condição. O mais preocupante: muitos ainda não sabem. O que é arritmia cardíaca e por que ela preocupa? Arritmia é qualquer alteração no ritmo dos batimentos cardíacos. Isso pode significar que o coração está batendo rápido demais (taquicardia), devagar demais (bradicardia) ou de forma irregular. Embora algumas arritmias sejam benignas, outras estão associadas a riscos sérios, como acidente vascular cerebral (AVC), insuficiência cardíaca e morte súbita. A arritmia pode afetar qualquer pessoa, em qualquer idade, mas é mais comum em idosos, pessoas com histórico familiar de problemas cardíacos, e em indivíduos com hipertensão, diabetes, obesidade ou estresse crônico. O uso abusivo de álcool, cafeína, cigarro e até de medicamentos ou substâncias estimulantes também pode contribuir. Principais tipos de arritmia: Conheça as diferenças Existem diversos tipos de arritmias, cada uma com características próprias. As mais comuns incluem: Fibrilação atrial: É a arritmia mais frequente e ocorre quando os átrios (câmaras superiores do coração) batem de forma irregular. Aumenta em até 5 vezes o risco de AVC. Taquicardia supraventricular: Uma aceleração dos batimentos que se inicia acima dos ventrículos. Pode causar palpitações intensas e desconforto. Extrassístoles: Batimentos “fora do compasso” que ocorrem precocemente. Muitas vezes são benignas, mas merecem investigação. Bradicardia: Ritmo lento demais, que pode causar tonturas, fadiga e, em casos graves, perda de consciência. Taquicardia ventricular: Grave e potencialmente fatal, exige intervenção médica imediata. Sinais de alerta e diagnóstico precoce Nem todas as arritmias causam sintomas evidentes. Quando presentes, os sinais podem incluir palpitações, tontura, falta de ar, cansaço excessivo, dor no peito ou desmaios. Um simples eletrocardiograma já pode revelar predisposições à arritmia. Exames como o Holter (monitoramento de 24h) e o ecocardiograma também ajudam a entender o comportamento elétrico e estrutural do coração. A escuta atenta do cardiologista, aliada aos exames corretos, é fundamental para um diagnóstico precoce. Fatores de risco e como prevenir Grande parte das arritmias pode ser evitada ou controlada com mudanças no estilo de vida. A prevenção passa por: Alimentação balanceada e pobre em gorduras saturadas e ultraprocessados Atividade física regular, adaptada à condição de cada pessoa Controle de pressão arterial, colesterol e glicemia Evitar o uso excessivo de cafeína, álcool, cigarro e energéticos Redução do estresse, com apoio emocional, terapias e bons hábitos de sono Além disso, o acompanhamento cardiológico regular é essencial, especialmente para quem já tem fatores de risco. Quando é hora de procurar ajuda médica Se você sente que o coração está acelerado ou “fora do ritmo” com frequência, ou se tem episódios de tontura, fadiga sem explicação ou desmaios, não espere. Esses podem ser sinais de alerta. A busca por avaliação médica especializada pode prevenir complicações graves. Mesmo que os sintomas sejam leves ou esporádicos, é melhor investigar e ter tranquilidade. Em muitos casos, o tratamento iniciado precocemente é mais simples e eficaz. Avanços no tratamento e no monitoramento O tratamento da arritmia varia conforme o tipo e a gravidade. Pode incluir: Uso de medicamentos antiarrítmicos Implante de marca-passo ou desfibrilador Ablação por cateter, que "desativa" a área do coração que está gerando a arritmia Tecnologias de monitoramento remoto, que acompanham o ritmo cardíaco à distância Esses recursos, aliados ao acompanhamento contínuo, têm oferecido mais qualidade de vida e segurança aos pacientes. Informação, prevenção e cuidado contínuo As arritmias cardíacas não devem ser subestimadas. Estamos diante de um cenário que exige atenção da população, capacitação dos profissionais e fortalecimento da medicina preventiva. A boa notícia é que, com informação, diagnóstico precoce e hábitos saudáveis, é possível controlar e até evitar muitos casos. O coração precisa de ritmo, mas também de cuidado e responsabilidade. Se você tem dúvidas ou sintomas, procure um cardiologista. Ouvir o que o corpo tem a dizer pode ser o primeiro passo para uma vida mais longa e saudável. 
By Fernando Figueira May 24, 2025
Por muito tempo, acreditou-se que o infarto agudo do miocárdio era uma condição que acometia, prioritariamente, homens acima dos 50 anos, com histórico familiar e estilo de vida sedentário. No entanto, essa percepção está mudando rapidamente. Os casos de infarto em adultos jovens, especialmente aqueles com menos de 40 anos, têm crescido de maneira preocupante nos últimos anos. E esse aumento acende um sinal de alerta importante tanto para a sociedade quanto para os profissionais de saúde: estamos falhando na prevenção precoce? O que revelam as estatísticas Dados do Ministério da Saúde mostram que, entre os anos 2000 e 2024, houve um crescimento de 180% nas internações por infarto em jovens brasileiros com menos de 40 anos. Na faixa etária entre 35 e 39 anos, esse número saltou de 9,3 para 18 casos por 100 mil habitantes — um aumento de quase 80%. É uma mudança brusca no perfil epidemiológico da doença cardiovascular, tradicionalmente ligada ao envelhecimento. Os fatores de risco permanecem os mesmos: tabagismo, sedentarismo, alimentação rica em gorduras saturadas, hipertensão arterial, diabetes e colesterol alto. No entanto, entre os mais jovens, outros aspectos vêm ganhando protagonismo, como o uso de anabolizantes, drogas ilícitas, o estresse crônico associado à hiperprodutividade e ao desemprego, e o uso excessivo de cigarro eletrônico (vape), muitas vezes erroneamente considerado inofensivo. O impacto das redes sociais e da pressão estética também tem incentivado práticas nocivas à saúde, como dietas extremamente restritivas, automedicação e uso indiscriminado de substâncias para emagrecimento rápido. Soma-se a isso o baixo índice de acompanhamento médico regular entre os jovens, que acabam negligenciando sintomas iniciais como dor no peito, cansaço extremo e palpitações. Segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia, mais de 30% dos jovens com infarto não apresentam fatores de risco tradicionais. Isso significa que há um número significativo de pacientes jovens com eventos cardiovasculares graves sem o "perfil clássico", o que dificulta ainda mais a prevenção e o diagnóstico precoce. Além disso, estudos internacionais apontam que jovens que sofrem infarto têm maior probabilidade de complicações emocionais e psicológicas no pós-evento, como ansiedade, depressão e medo recorrente de morte súbita. Saúde cardiovascular não tem idade A principal questão que se impõe é: estamos preparados para enfrentar um infarto precoce? A maioria dos serviços de saúde ainda considera o infarto como uma doença de idosos. Isso faz com que os sintomas em jovens sejam, muitas vezes, subestimados tanto pelos próprios pacientes quanto pelos profissionais da saúde. O tempo até o diagnóstico e o início do tratamento costuma ser maior, o que aumenta o risco de sequelas e até de óbito. Outro problema é que muitos planos de saúde ou programas públicos de triagem não priorizam essa faixa etária para exames cardiológicos, o que dificulta a detecção precoce de doenças coronarianas silenciosas.  É urgente repensar nossa abordagem em relação à saúde cardiovascular de jovens adultos. Programas educativos sobre hábitos saudáveis, campanhas direcionadas para essa faixa etária e inclusão de check-ups cardiológicos em exames de rotina são fundamentais. Além disso, é necessário que os profissionais da saúde estejam mais atentos aos sinais e sintomas relatados por esses pacientes, mesmo que não apresentem os fatores de risco clássicos. O infarto em jovens já não é exceção, é uma realidade. E como sociedade, precisamos reagir a isso com informação, prevenção e acolhimento.
By Fernando Figueira May 1, 2025
O diabetes é uma ameaça silenciosa ao coração. Enquanto a maioria dos pacientes se preocupa com os níveis de açúcar no sangue, muitos não percebem que o verdadeiro perigo está no impacto cardiovascular da doença. Estudos mostram que pessoas com diabetes têm até 4 vezes mais risco de infarto e AVC. Este artigo revela como o diabetes danifica o coração, quais os novos tratamentos que protegem o sistema cardiovascular e como fazer uma prevenção eficaz. Como o diabetes destrói seu coração A conexão entre diabetes e doenças cardíacas começa com três processos perigosos: Inflamação crônica e estresse oxidativo: O excesso de glicose no sangue desencadeia uma resposta inflamatória que danifica as paredes das artérias, acelerando a formação de placas de aterosclerose. Disfunção endotelial: O revestimento interno dos vasos sanguíneos (endotélio) perde sua capacidade de relaxar, aumentando a pressão arterial e reduzindo o fluxo sanguíneo. Cardiomiopatia diabética: O coração fica mais rígido e menos eficiente, podendo levar à insuficiência cardíaca mesmo sem obstruções nas artérias. Os novos tratamentos que protegem o coração A medicina moderna trouxe uma mudança de paradigma no tratamento do diabetes, indo muito além do simples controle glicêmico. Hoje, dispomos de medicamentos que não só regulam o açúcar no sangue, mas oferecem proteção cardiovascular comprovada - um avanço essencial, já que problemas cardíacos são a principal causa de morte em pacientes diabéticos. Inibidores de SGLT-2: Proteção cardíaca com múltiplos benefícios A empagliflozina, dapagliflozina e canagliflozina representam essa classe inovadora. Seu mecanismo de ação único promove a eliminação de glicose pela urina, mas seus benefícios cardíacos vão além: Redução de 38% na mortalidade cardiovascular (estudo EMPA-REG OUTCOME) Queda de 35% nas hospitalizações por insuficiência cardíaca Efeito diurético suave que alivia o coração sobrecarregado Proteção renal, reduzindo a progressão da doença renal diabética O mais impressionante? Esses benefícios são independentes do controle glicêmico, sugerindo mecanismos diretos de proteção cardiovascular. Agonistas de GLP-1: Controle glicêmico com vantagens cardíacas A semaglutida, liraglutida e dulaglutida agem no sistema incretínico, oferecendo: Redução de 26% em eventos cardiovasculares maiores (infarto, AVC, morte cardiovascular - estudo SUSTAIN-6) Perda de peso significativa, até 10-15% do peso corporal com doses mais altas Melhora da função endotelial e redução da inflamação vascular Controle glicêmico superior com menor risco de hipoglicemias Cuidados simples que fazem toda diferença Se você tem diabetes, sabe que controlar o açúcar no sangue é importante. Mas o que muitos não contam é que o verdadeiro perigo está no coração. A boa notícia? Com alguns cuidados básicos, dá para viver bem e manter seu coração saudável por muitos anos. O segredo está em quatro pilares simples. Primeiro, fique de olho na pressão arterial. Medir regularmente e manter abaixo de 13/8 já reduz muito os riscos. Segundo, controle o colesterol - principalmente o LDL, que deve ficar abaixo de 70 se você já tiver algum problema cardíaco. Terceiro, não deixe de fazer os exames preventivos, como aquele ultrassom do coração que o médico pede. E quarto, mexa-se! Caminhar meia hora por dia já faz uma diferença enorme.  A medicina hoje oferece remédios modernos que vão além de controlar o açúcar - alguns protegem diretamente o coração, enquanto outros ajudam a perder peso e melhoram a saúde como um todo. O importante é conversar com seu médico sobre essas opções. Lembre-se: pequenas mudanças trazem grandes resultados. Comece medindo sua pressão essa semana, marque aquele check-up que está adiando e vá incluindo hábitos mais saudáveis no seu dia a dia. Seu coração agradece - e você vai sentir a diferença! O diabetes não precisa controlar sua vida. Com informação simples e atitudes práticas, você pode tomar as rédeas da sua saúde. Que tal começar hoje mesmo?